A operação Crátons da Polícia Federal, primeira oriunda de compartilhamento de informações da Lava-Jato, desvendou uma rede de financiamento da extração ilegal de diamantes no chamado "garimpo Lage" (antigo Roosevelt) que planejava investir R$ 1 milhão e estimava faturar R$ 6 milhões a cada 90 dias. O garimpo fica em Rondônia, na reserva indígena Parque do Aripuanã, dos índios cinta larga.
A reserva já estava no foco da PF em Rondônia a partir de denúncias da Fundação Nacional do Índio (Funai). O cruzamento de informações permitiu aos investigadores chegar pela primeira vez nos financiadores do garimpo, uma atividade extremamente lucrativa. O delegado Bernardo Guidali Amaral, que atuou na operação, disse que o grupo tinha como planejamento investir R$ 1 milhão em troca de ter um retorno de R$ 6 milhões num prazo de 90 dias. Não há informações sobre o quanto a quadrilha faturou. As investigações, contudo, confirmam que houve a extração dos diamantes.
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Os dois nomes que ligam a Lava-Jato ao esquema de extração ilegal de diamantes são o do doleiro Carlos Habib Chater, preso desde março de 2014 acusado de lavar dinheiro desviado da Petrobras; e o do advogado Raul Canal, chefe do Raul Canal & Advogados Associados, com sede em Brasília e representação em vários Estados, que teve o nome mencionado no início da investigação. Chater terá que prestar depoimento a respeito da nova denúncia.
A PF também identificou a participação de uma cooperativa e uma associação indígena na extração ilegal das pedras preciosas. Caciques cinta larga foram presos pela Operação deflagrada nesta terça-feira. Segundo o delegado Amaral, a exploração tinha três ramificações: os financiadores, os indígenas e os empresários locais.
Chater e Raul Canal estão nesse primeiro grupo. "Duas pessoas monitoradas pela Lava-Jato tiveram interceptações de telefone e e-mail que mostraram estarem envolvidas com exploração de garimpo ilegal. A partir de então, se tomou conhecimento desse grupo e foi possível identificar quem estava disposto a financiar o garimpo", afirmou o delegado.
Segundo ele, já se sabe que os diamantes foram retirados e levados para o grupo. "Não sabemos, contudo, o destino dos diamantes", afirmou. Investigadores disseram ao jornal O Estado de S. Paulo que a relação com a Lava-Jato deve-se apenas à presença de personagens em comum. Não há indícios de que os envolvidos no esquema de corrupção da Petrobras tenham lavado dinheiro por meio das pedras preciosas.
A Operação Crátons envolveu cerca de 220 policiais federais que cumprem 90 mandados, sendo 11 de prisão preventiva, 41 de busca e apreensão, 35 de condução coercitiva, além de três intimações para depor. Os mandados foram cumpridos no Distrito Federal, Rondônia, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Rio Grande do Sul, Bahia, Mato Grosso e Pará.
A Justiça Federal determinou o sequestro de um imóvel e de dinheiro encontrado nas contas de investigados para ressarcir os danos ambientais. Os investigados vão responder pelos crimes de exploração ilegal de recursos naturais, dano a unidade de conservação, usurpação de bem da União, receptação, organização criminosa, associação criminosa e lavagem de dinheiro.
O doleiro Carlos Habib Chater era o dono do Posto da Torre, em Brasília, utilizado para lavagem de dinheiro, evasão de divisas e pagamentos de propinas que deu origem ao nome da operação Lava-Jato.
Alvo de três ações penais da Lava-Jato, Chater já foi condenado em duas ações a 10 anos e três meses de prisão pelo juiz Sérgio Moro. Ele ainda aguarda a sentença em uma das ações.
O Estado entrou em contato com a defesa de Chater, mas o advogado disse estar em reunião e que depois retornaria. A reportagem não conseguiu localizar a defesa de Raul Canal.