O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso classificou a prisão do senador Delcídio Amaral, flagrado tentando obstruir as investigações da operação Lava Jato, de "coisa louca". O ex-presidente participou de um debate na capital paulista, na noite desta quinta-feira, 26, para promover seu livro "Diários da Presidência" e falou sobre o cenário de crise política e econômica do País.
[SAIBAMAIS]"Prenderam um senador da República e o senador disse o que disse, uma coisa louca", afirmou. Fernando Henrique defendeu a decisão do Supremo Tribunal Federal de autorizar a prisão de Delcídio a partir da análise do áudio em que ele ajudava a planejar a fuga de Nestor Cerveró, em troca de não ter seu nome citado na delação do ex-diretor da Petrobras. "Tem uma instituição que parece ter vigor, que é o Judiciário, neste momento. A decisão, que não quero nem discutir se era constitucional ou não, tinha que ser tomada, algum ponto de amarração tem que ter o sistema político. Já que os políticos não tomam, eles (ministros do Supremo) tomaram uma decisão", afirmou FHC.
O tucano insistiu que o sistema político brasileiro está falido e citou como prova disso o "constrangimento" por qual o Senado Federal passou na noite desta quarta-feira (25/11) ao decidir se o voto sobre a prisão de Delcídio seria aberto ou fechado. "Infelizmente, os elementos-chave do sistema político brasileiro estão sob questionamento. Nós vimos na televisão ontem o constrangimento de alguns terem que defender ;olha tem que ser secreto, se não eu caio;."
O ex-presidente criticou a presidente Dilma Rousseff por demorar em tomar a liderança e tirar o país do cenário de crise. "É preciso abrir o jogo e chamar as pessoas para conversar", disse. Segundo o tucano, o governo está "empurrando com a barriga". "Você tem duas forças fazendo o Brasil andar, Lava Jato e a crise, é dramático. E qual é a ação, a proposta de reorganização disso aí?"
FHC criticou ainda o fato de Dilma deixar o País após a prisão de Delcídio, que comprometeu a agenda de votações no Congresso, do ajuste fiscal e referentes à meta fiscal deste ano, tão fundamentais para o governo. Dilma vai participar da conferência do clima COP 21 em Paris. "A presidente vai viajar agora, vai passar nove dias fora do Brasil, eu não iria nessas circunstâncias."
"Se a presidente não pegar a rédea, alguém vai pegar", afirmou o ex-presidente ressaltando que não falava de golpe, mas de formas constitucionais de tirarem Dilma do comando. "Quando houve a crise do apagão, chamei todo mundo e disse ou saímos juntos desse negócio ou não saímos, a situação atual é a mesma", aconselhou.
E repetiu a tese de que Dilma poderia oferecer sua renúncia em troca da aprovação de "certas medidas" para tirar o País da crise. À plateia de admiradores, FHC completou em tom de brincadeira. "E se aprovarem, não precisa nem sair", arrancando gargalhadas do público.