O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, criticou ontem a atuação do Congresso Nacional ao elogiar a decisão tomada pela Corte de suspender as doações ocultas de campanha. Enquanto comentava a determinação do dia anterior, o ministro afirmou que o Judiciário está assumindo papéis da competência do Legislativo que, segundo ele, se dedica hoje a funções que deputados desconhecem. O magistrado ressaltou também que o Brasil precisa ter ;paciência; nos próximos três anos para não embarcar no que chamou de ;golpe institucional; que, de acordo com ele, significaria o retorno a tempos ;tenebrosos;. O ministro, que não mencionou o nome da presidente Dilma Rousseff, referia-se aos pedidos de impeachment contra a petista protocolados na Câmara dos Deputados.
;O Congresso deixou de lado a sua função legislativa e passou a exercer uma função investigativa. Inúmeras CPIs correndo, substituindo o Ministério Público, a Polícia Federal e o próprio Judiciário, fazendo aquilo que eles não sabem fazer e deixando de fazer aquilo que eles sabem fazer de melhor, que é legislar. Investigar é para profissional, não é para amador;, afirmou.
Na quinta-feira, ministros do STF decidiram suspender as doações ocultas. A Corte determinou que os repasses eleitorais de pessoas físicas a partidos e transferidos para candidatos precisam ser identificados. Com a decisão de caráter liminar, o STF suspendeu o trecho da lei de minirreforma eleitoral, aprovada pelo Congresso, que permitia doações sem a demonstração da origem dos recursos. A lei da minirreforma foi sancionada em 29 de setembro deste ano pela presidente Dilma Rousseff.
Desgoverno
O ministro do STF Marco Aurélio Mello afirmou ontem que a crise política brasileira tem origem na falta de harmonia entre os poderes, principalmente o Executivo e o Legislativo. ;Precisamos reconhecer, com desassombro, que hoje não há governo no Brasil;, declarou. Mello fez a declaração no Insper, em São Paulo, durante uma palestra que concedeu sobre liberdade de expressão.