A greve de caminhoneiros marcada para hoje pode agravar ainda mais as dificuldades enfrentadas pelo governo neste mês de novembro. Ainda não existe a certeza se a paralisação, que divide a categoria e tem como uma das principais bandeiras a renúncia da presidente Dilma Rousseff, poderá, isoladamente, causar graves transtornos ou provocar uma crise de desabastecimento no país. Mas o movimento pode se somar a outros elementos no caldeirão explosivo que amarga os dias do Planalto: os petroleiros da Petrobras estão de braços cruzados (leia mais na página 9), as investigações da Operação Lava-Jato seguem batendo às portas do PT e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e as matérias do ajuste fiscal que tramitam no Congresso não avançam ou são modificadas, perdendo a capacidade de arrecadação original.
A paralisação prometida por motoristas de caminhão e transportadores rodoviários de carga não tem uma pauta clara de reivindicações. O movimento grevista alega que as condições de trabalho da categoria só pioraram desde a última greve, realizada em março e que provocou caos e desabastecimento por todo o Brasil. O líder do Comando Nacional dos Transportes (CNT), Ivar Luiz Schmidt, afirmou que a expectativa é de grande adesão. %u201CA greve será maior do que a que ocorreu em março%u201D, prometeu. Segundo a liderança, a categoria acredita que o impeachment pode se arrastar e a renúncia da presidente seria uma saída mais rápida para o país. %u201CNão estamos lutando como categoria, mas como cidadãos%u201D, alertou.
Por não existir uma pauta de reivindicações a ser negociada, Schmidt ressaltou que não haverá mobilização dos caminhoneiros para virem a Brasília, como ocorreu em março. %u201CAgora, só queremos que a presidente renuncie e não precisamos ir à capital federal esperar por isso%u201D, disse.
Para Schmidt, os sindicatos de caminhoneiros não estão apoiando os autônomos porque eles conquistaram o direito de cobrar uma taxa, exigida pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), que custará a cada transportador R$ 600 por ano. %u201CDe novo, quem não tem dinheiro é que terá de pagar. Hoje, existem 2,5 milhões de caminhões. Numa conta simples, serão R$ 15 bilhões a mais para o governo. E quem vai cobrar a taxa são os sindicatos. É uma mina de ouro para eles, por isso não estão nos apoiando e furam as greves%u201D, explicou.
Frustração
A indignação da categoria está intacta desde março, uma vez que a pauta de reivindicações não foi atendida, ressaltou o líder do CNT. Segundo Schmidt, o governo alega que atendeu dois itens: a formação de um fórum permanente de debates e a carência de 12 meses para pagamento dos financiamentos de caminhões pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o Finame. %u201CNa prática, as seis pessoas do nosso movimento que participam do fórum só vão a Brasília para passear, porque não são ouvidas e tampouco atendidas. O restante são os antigos caciques dos sindicatos. Essa reivindicação deu com os burros n%u2019água%u201D, afirmou.
Questões como a criação de uma tabela referencial do frete, redução do custo do diesel e a reserva de mercado de 40% nas cargas do governo para a categoria ficaram apenas na promessa. A mobilização toda ocorre por meio da página do comando no Facebook e por grupos de WhatsApp. Vice-presidente da CPI da Petrobras, o deputado Antonio Imbassahy (BA) acha natural que nenhum dos pleitos apresentados pelos caminhoneiros tenha sido atendido pelo governo. Ele lembra que o preço do diesel continua pressionado pela crise da Petrobras. Os pedágios não têm como ser revistos, já que são contratos firmados com as concessionárias. %u201CE a economia desaquecida impede o aumento no valor do frete. É o que chamamos de deseconomia, quando a retração puxa para baixo todos os indicadores%u201D, afirmou Imbassahy.
O Ministério da Justiça decidiu mobilizar a Polícia Rodoviária Federal (PRF) somente a partir de hoje %u2014 caso os bloqueios das estradas se confirmem. Até a tarde de ontem, não havia registro de nenhuma rodovia monitorada pelo órgão fechada por caminhões. Uma manifestação foi registrada próxima ao município de Vacaria (RS), porém sem incidentes.