Depois de dois dias articulando a base para adiar mais uma vez a sessão plenária de análise dos 32 vetos presidenciais no Congresso Nacional, o governo mudou de posição e resolveu liberar os parlamentares. O início da votação está previsto para 19h. A decisão foi tomada após reunião do líder do governo no Senado, senador Delcidio do Amaral (PT-MS) com a presidente Dilma Rousseff.
No Senado, a estimativa é que mais da metade da Casa manteria os vetos, o que já é suficiente para o governo. Pra derrubar um veto é preciso do voto de pelo menos 257 dos 513 deputados e 41 dos 81 senadores. Se uma das Casas tiver maioria para derrubar e outra não, o veto é mantido. Com essa garantia, o Planalto avaliou que é melhor dar uma resposta ao mercado financeiro, diante da disparada do dólar, que ultrapassou a barreira de R$ 4,00 hoje.
O adiamento era para evitar uma derrota que pode ter um impacto de, pelo menos, R$ 127,8 bilhões entre 2015 e 2019 nas contas públicas em apenas quatro vetos.
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A presidente fez um apelo aos presidentes do Senado, Renan Calheiros, e da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, para adiar a sessão, em um encontro hoje pela manhã. Em reunião no Palácio do Planalto ontem à noite, o ministro das Comunicações, Ricardo Berzoini, que assumiu a articulação política, pediu aos líderes da base que convencessem as bancadas, enfatizando o valor que a derrubada dos vetos pode causar nas contas públicas e agravar ainda mais a crise financeira e política.
As conversas que o Eurasia Group teve com os líderes partidários no Congresso indicam que o governo conseguirá manter três vetos dos cinco que integram a pauta bomba e que podem provocar uma sangria de bilhões de reais dos cofres públicos. ;Essa votação deverá ocorrer hoje à noite, embora possa ser adiada para dar ao governo mais tempo para convencer a base aliada;, disse, em nota, o diretor do Eurasia para a América Latina em Washington, João Augusto de Castro Neves.
Ao ver do especialista, se Congresso adiar sessão conjunta do Congresso de hoje à noite, é uma indicação de que os líderes do grupo precisam de mais tempo para angariar apoio em uma das duas casas do Congresso para sustentar (que exige uma maioria absoluta no Senado e câmara baixa para substituir um veto). ;Se realizarem uma sessão, indica que o governo conseguiu um acordo com senadores suficiente para manter os vetos, pois, na Câmara, é mais incerto;, disse ele, lembrando que e a última opção seria a mais preferível, pois os líderes do Congresso têm as ferramentas para atrasar estas sessões conjuntas até que reforçar o apoio em uma ou ambas as Casas.
O Congresso não vem realizando sessão conjunta desde abril. Castro Neves tem dúvidas se o governo conseguirá manter unidade com o principal partido da base aliada, o PMDB, mas ele avisa que há preocupação generalizada tanto de governistas quanto da oposição de que se essa pauta bomba for aprovada, haveria um caos adicional, afastando o setor empresarial no apoio ao governo.