"Falsas ilações" e "especulações" na imprensa foram os motivos para que a empresa de espionagem Kroll desistisse da renovação do contrato com a CPI da Petrobras. Essa é a avaliação do presidente da comissão, deputado Hugo Motta (PMDB-PB), que disse ter ficado surpreso com a decisão da consultoria. "Resta a nós trabalhar em parceira com as instituições que já estão nos ajudando", declarou Motta.
O peemedebista contou que conversou na manhã desta quinta-feira, 13, com representantes da consultoria, que se mostrou insatisfeita com as especulações de que seu trabalho serviria para ajudar a CPI a "derrubar" as delações premiadas da Operação Lava Jato. "A imagem ficou ruim para eles (da Kroll). Fica como se tivessem prestado serviços a meliantes", resumiu um deputado.
Motta negou que os valores gastos até o momento com a consultoria, que superaram R$ 1 milhão, tenham sido desperdiçados. "Acredito que não tenha sido trabalho perdido, existem indícios lá. O trabalho seria concluído com dados mais substanciais com a contratação que seria feita", afirmou o peemedebista.
Membros da CPI que tiveram acesso hoje ao relatório da primeira fase das atividades classificaram o trabalho como "bem feito" e disseram que a consultoria detalhava como comprovar as movimentações dos delatores no exterior. No documento, a Kroll relatava indícios de contas, bens e empresas no exterior de 12 pessoas que foram alvos das investigações da Polícia Federal, entre elas nove delatores. "A CPI sai perdendo porque teria esse apoio", comentou o presidente da comissão.
Um dos pontos de divergência para a renovação do contrato com a Kroll foi a cláusula de indenização para possíveis questionamentos judiciais futuros. No primeiro contrato, a CPI disponibilizou um cheque caução de 20 mil euros, que não chegou a ser utilizado. Agora, a consultoria exigia um novo cheque caução, ainda sem valor definido, mas a CPI refutou a ideia.
Depoimentos
A CPI ouviu nesta tarde o depoimento do ex-diretor da corretora TOV, Marco Antonio Rodota Stefano. Hoje aposentado, Stefano disse que não operava na área de câmbio e que não conhecia a doleira Nelma Kodama.
O depoimento anterior foi do operador de câmbio de Nelma, Luccas Pace Júnior. Ele contou que recebia entre 0,1 e 0,2% dos valores que operava e que Nelma trabalhava para empresas de fachada, que sequer tinham contas em banco. Pace disse que nunca teve contato com a Petrobras e negou relação com políticos.
O operador contou que há brechas no sistema de fiscalização do Banco Central que favorecem a atuação irregular de corretoras e sugeriu que a CPI questione o BC sobre o fato do volume de remessas para o exterior ser superior ao balanço de mercadorias. "O BC tem de explicar isso", afirmou.