A estudante de medicina Ana Luiza Lima, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), denunciou graves ameaças e ataques que teriam partido de colegas e médicos, no Facebook. Ela ganhou destaque nacional no começo do mês ao elogiar, em evento no Palácio do Planalto em Brasília, a política educacional do governo Dilma, durante a comemoração dos dois anos do Programa Mais Médicos. "Fui chamada de vadia, de médica vagabunda, de pobre, ignorante, não merecedora de cursar medicina", relatou na rede social.
Em desabafo publicado nesta segunda-feira (10/8), ela contou que também recebeu ameaças: "Me foi dito que iam fazer de tudo pra que eu não conseguisse emprego depois de formada. De que eu não sabia com quem estava lidando. Que eu merecia levar uma surra pra aprender a deixar de ser corrupta. Me mandaram calar minha boca nojenta de pobre e de vadia" .
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No discurso emocionado que fez no Planalto, Ana havia dito que "no Brasil de hoje, a neta de um agricultor do sertão do Nordeste, ou de qualquer outra região já pode sonhar em ser doutora". A jovem foi muito aplaudida e abraçou a presidente Dilma Rousseff.
Leia a íntegra do depoimento da jovem
QUEM QUER A CABEÇA DA ESTUDANTE DE MEDICINA?
;Me pergunta, que tipo de sentimento é o medo? Te respondo ; dos outros! O meu é o mesmo há várias luas;Deixa os verme falar pelos cotovelos eu ainda falo pelas ruas!!; ; Emicida.
Vim aqui pra deixar coisas claras. Vim falar porquê a minha garganta não aguenta o nó que se formou. E eu NUNCA fui de calar. Fui convidada a falar sobre a transformação que a educação causou na minha vida e sobre a alegria de cursar medicina. E assim escrevi um texto, de coração e de peito aberto. E hoje penso em tudo que eu disse e tudo que eu queria ter dito mas não foi ouvido. Minhas palavras ecoaram. Porém nunca foram direcionadas à NENHUM partido político. Foi o reconhecimento de um acerto e uma reafirmação do que eu acredito e luto. Fui atacada em minha página pessoal brutalmente por MÉDICOS E FUTUROS MÉDICOS, além de outras pessoas. O machismo e a elite mostraram sua cara. Fui chamada de vadia, de MÉDICA VAGABUNDA DE POBRE, ignorante, não merecedora de cursar medicina. Me foi dito que iam fazer de TUDO pra que eu não conseguisse emprego depois de formada. De que eu não sabia com QUEM estava lidando. Que eu merecia LEVAR UMA SURRA pra aprender a deixar de ser corrupta. Me mandaram CALAR MINHA BOCA NOJENTA DE POBRE E DE VADIA. De novo. Está tudo guardado, não para dar respostas. Mas porque aprendi desde cedo a não responder ódio com violência. Não. Eu NÃO tenho a SUA sede de sangue.
Mas eu tenho uma novidadinha pra essa classe COVARDE de profissionais. A mesma classe que eu já vi combinando entre si no MESMO grupo, de ;tratar mal os negros, as feministas e os gays que chegassem nos consultórios médicos, pra que esse povinho aprendesse seu devido lugar;. A novidade é que minhas palavras não foram em nenhum momento pra vocês. Vocês que ignoram a realidade cruel vivida todos os dias nos hospitais públicos. Minhas palavras foram pros profissionais de saúde que dão o sangue todo dia, mesmo com condições péssimas de trabalho, com salários atrasados, numa saúde abandonada e caótica. Eles sim, são verdadeiros heróis. Minhas palavras foram direcionadas àqueles que acreditam e lutam por um mundo transformado a partir da educação e do amor. Minhas palavras foram um agradecimento aos professores, a classe Trabalhadora com T maiúsculo! Que têm seu serviço desvalorizado ao máximo, mas toma a linha de frente na luta pela transformação diária do futuro de milhões de jovens sem oportunidade no país.
Eu não fui nenhuma heroína, e eu conheço mil médicos que são verdadeiros heróis. Que não precisaram de mais NADA além de força de vontade pra vencer na vida. Mas me desculpa, é que eu penso além. Eu sonho com o dia em que vamos cobrar das nossas crianças, apenas COMPETÊNCIA pra vencer, e não mais heroísmo.
Eu tô falando com aqueles meninos que você tem medo quando para no sinal, tô falando daqueles com fuzil na mão vigiando um fio de vida nos morros das grandes cidades. Tô falando daquela menina que mora na rua e cata latinha, daquele nos campos com enxada na mão cortando cana. Daquela que perde a infância nas esquinas da prostituição. Tô falando daqueles que você insiste em dizer que não existem. Por quê quando você percebe que ELES EXISTEM, coça em você uma ferida podre de 515 anos. Te dá um medo na espinha quando aparece alguém pra defender uma educação por eles e para eles. Te gela a alma a chegada do dia em que o povo não vai mais esquecer seus Amarildos e suas Cláudias Silvas;.
Eu já consigo imaginar muitos de vocês rindo, pensando na reeleição garantida, enquanto veem no jornal o povo gritando por mais prisões e menos escolas. E apesar de me doer, eu entendo esse grito.
Eu engoli meu medo porque sei que toda luta pode ser desmerecida. Eu dei minha cabeça à prêmio, e voltei pra casa com a esperança real de um hospital universitário pra minha região onde muita gente tem sorte de ter a esperança de ter um prato de comida.
Eu recebi um agradecimento da prefeita de uma das maiores cidades do país, dizendo que graças às minhas palavras, um novo plano pra educação pública vai ser pensado, e que ela se encheu de esperança e disposição para lutar com unhas e dentes pelos professores da rede pública e pelos jovens em situação de risco. Isso já me curou de todos os medos e de todo o ódio que me foi jogado.
Esperança. Vontade de mudar. EMPODERAMENTO de um povo PELO seu povo.
Eu sei que eu não sou nada nesse sistema corrompido e intricado. Eu sei que não sou ninguém diante dos poderosos desse país. Mas eu tenho outra novidade, eu não estou sozinha, e gente como eu, é quem te causa os piores pesadelos à noite.
E eu vou seguir, mesmo frágil, mesmo com medo, mas sempre acreditando.
;Então serra os punhos, sorria. E jamais volte pra sua quebrada de mão e mente vazia.;