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Ex-dirigente da Eletronuclear recebeu R$ 4,5 milhões em propina

Othon Pinheiro foi preso e é suspeito de receber dinheiro da empreiteira Andrade Gutierrez, que executa obras na usina de Angra 3. %u201CCorrupção é endêmica e está em estado de mestástase%u201D, diz procurador

O Ministério Público e a Polícia Federal suspeitam que o ex-presidente da estatal Eletronuclear Othon Luiz Pinheiro da Silva recebeu R$ 4,5 milhões das empreiteiras Andrade Gutierrez (AG) e Engevix, que executam obras na usina de Angra 3, em Angra dos Reis (RJ). Nesta sexta-feira (28/7), a PF prendeu o ex-dirigente o presidente global da AG Energia Flávio David Barra, além de conduzir cinco representantes de outras empreiteiras para prestar depoimento, na 16; fase da Operação Lava-Jato, batizada de Radioatividade.

Os subornos foram pagos entre 2009 e 2014. O procurador da força-tarefa do caso Atahyde Ribeiro Costa destacou que a criminalidade descoberta se alastrou para além da Petrobras. ;A corrupção no Brasil, infelizmente, é endêmica e está em estado de metástase;, reforçou ele, em entrevista coletiva em Curitiba (PR). O delegado regional de Combate ao Crime Organizado da PF no Paraná, Igor Romário de Paula, disse que os presos devem chegar a Curitiba até o início da noite.

O procurador disse que a Andrade obteve um contrato em Angra 3 e conseguiu um aditivo de R$ 1,4 bilhão em 2009 graças ao pagamento de propinas. O dinheiro era pago pela AG e pela Engevix, que também tem obras na usina, por meio de quatro empresas intermediárias, até chegar à Aratec, de propriedade de Othon Pinheiro.

Os pagamentos continuaram até recentemente. A força-tarefa obteve uma nota fiscal da Aratec para receber dinheiro da Engevix em 12 de dezembro do ano passado. Para a PF e o Ministério, as empresas são de fachada, por não terem quadro de pessoal para prestarem qualquer tipo de serviço e por utilizarem suas contas bancárias apenas como canal de passagem em operações de lavagem de dinheiro.

Em setembro do ano passado, o consórcio Angramon fechou contrato com a usina. O consórcio é formado pelas empresas Andrade Gutierrez, Construtora Norberto Odebrecht (CNO), UTC Engenharia, Camargo Corrêa, Queiroz Galvão, EBE (do grupo MPE Montagens) e Techint. A Engevix não faz parte do consórcio, mas também fechou negócios por meio de subornos, segundo Athayde Ribeiro. Em depoimento prestado em delação premiada, o então presidente da Camargo Dalton Avancini, disse que havia reuniões em que se discutiu o pagamento de propina a Othon Pinheiro: o negociador na AG seria Flávio Barra.

De acordo com o procurador, as acusações do delator foram confirmadas por outras provas descobertas pela PF e pelo Ministério Público. Os investigadores pediram a prisão preventiva de Othon e Barra, mas o juiz Sérgio Moro entendeu que os indícios não eram tão fortes e decretou apenas a detenção temporária, por cinco dias. Com base nos mandados de busca ; em que se vasculharam computadores de executivos de várias empreiteiras em busca de emails ; a PF e o MPF devem pedir a conversão da medida em prisão preventiva nos próximos dias.

A PF conduziu forçadamente para depor os executivos Cloves Renato Nuna Peixoto, aposentado da AG, Fábio Adriani Gandolfo, da Odebrecht, Petrônio Brás Júnior, da Queiroz Galvão, Renato Ribeiro Abreu, da MPE Montagens , e Ricardo Ouripes Marques, da Techint. Todos eles participaram de reunião para combinar o pagamento de suborno a Othon Pinheiro, segundo o Ministério Público.

Pré-qualificação
Athayde Ribeiro disse que houve um ajuste para que só determinadas empresas fossem admitidas na fase de pré-qualificação da obra em Angra 3. Havia dois consórcios, que depois se fundiram no consórcio Angramon. ;Houve direcionamento na licitação para que essas empresas concorressem sozinhas;, afirmou ele. ;Os ganhadores já sabiam que ganhariam de antemão a licitação.;

Em nota, a Andrade Gutierrez afirmou que sempre esteve à disposição da Justiça e que seus advogados ainda analisam o caso. A Eletronuclear afirmou ao Correio que a empresa estatal que a controla ; a Eletrobrás ; é que comentaria o caso. A Eletrobrás solicitou pedido de esclarecimentos por escrito ao jornal, mas ainda não respondeu a nenhuma pergunta da reportagem.

Íntegra da nota da Andrade Gutierrez
;A Andrade Gutierrez está acompanhando a 16; fase da Operação Lava Jato e destaca que sempre esteve à disposição da Justiça. Seus advogados estão analisando os termos desta ação da Polícia Federal para se pronunciar.;