O presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Aroldo Cedraz se prepara para usufruir de um dos imóveis comprados pelo filho, o advogado Tiago Cedraz, alvo de operação da Polícia Federal que apura suspeitas de tráfico de influência na corte. O ministro faz uma reforma, com direito a itens de luxo, em apartamento da Asa Sul, em Brasília, adquirido por R$ 2,7 milhões pela Cedraz Administradora de Bens Próprios. A empresa, com capital de R$ 20 milhões, foi aberta por Tiago em sociedade com a mãe e mulher do ministro, Eliana Leite Oliveira, como mostrou o Estado na quinta-feira.
A obra no apartamento de 250 m;, assinada por um dos escritórios de arquitetura mais renomados de Brasília, está em fase final. Há bancadas, pintura feita e ar condicionado. A montagem dos móveis está a cargo de uma requintada loja da capital, cujo projeto descreve como cliente ;Aroldo Cedraz de Oliveira;.
Um dos responsáveis pela encomenda diz que serviço semelhante ao do ;Seu Aroldo;, como os funcionários do prédio se referem ao morador, custaria de R$ 250 mil a R$ 300 mil. ;São basicamente armários;, disse, acrescentando que há itens de marcenaria previstos para três suítes, três banheiros, escritório e rouparia. Na sala, haverá móvel para adega, home theater e cristaleiras. ;As proporções são grandes, porque o espaço é bem generoso.;
O piso será de mármore travertino, material de origem europeia cujo metro quadrado, conforme a configuração, varia de R$ 450 a R$ 650. Questionado sobre a reforma, um dos funcionários do prédio afirmou: ;O homem é chique, tudo de primeira. ;Chiquete mesmo;;. Ele diz que ;Seu Aroldo; aparece de vez em quando para cuidar de detalhes e deve se mudar em breve.
Fortuna
No mesmo prédio, já moram o filho, Tiago, e a nora em apartamento com as mesmas dimensões, negociado por R$ 2,9 milhões, parte financiada pelo Banco do Brasil. Em pouco mais de nove anos de carreira, o advogado, de 33 anos, fez fortuna com uma banca que atua no TCU. Como revelou o Estado, os imóveis comprados em três anos em Brasília somam R$ 13 milhões.
Levantamento de técnicos do TCU mostra que advogados que integram ou já integraram o escritório, construído por Tiago numa casa de alto padrão no Lago Sul, têm procuração em ao menos 130 processos. Ministros da corte, incomodados com o escândalo, cobram do TCU a lista completa para ;monitorar os casos;.
Na terça-feira, o escritório de Tiago foi alvo de buscas da Operação Politeia. Em delação premiada, o dono da UTC, Ricardo Pessoa, disse que pagava R$ 50 mil mensais ao advogado para ter acesso a informações de seu interesse. Por um processo que tratava de obras na Usina de Angra 3, ele teria negociado R$ 1 milhão com Tiago, supostamente para que o caso fluísse.
A investigação corre no Supremo Tribunal Federal, diante de suspeitas de participação de ministro do TCU. Processos que discutiam a montagem eletromecânica da usina foram relatados por Raimundo Carreiro.
No TCU desde 2007, Aroldo Cedraz recebeu R$ 18,1 mil líquidos pelo último contracheque. Veterinário e ex-deputado do extinto PFL (hoje DEM), declarou bens de R$ 1 milhão ao disputar sua última eleição, em 2006.
Questionado pelo Estado sobre os projetos de mudança, fontes de renda e os recursos que custeiam a reforma, Aroldo Cedraz não respondeu. Em nota, ao se referir ao apartamento em nome da empresa do filho e da mulher, disse: ;Sobre imóveis de terceiros recomendamos contato com o proprietário para obter as informações solicitadas;.