O juiz federal Sérgio Moro, que conduz as ações da Operação Lava-Jato, revelou uma longa rotina de créditos em contas no exterior do ex-diretor da área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró, preso desde janeiro em Curitiba. Na audiência desta quinta-feira 16, na Justiça Federal do Paraná, Cerveró se manteve em silêncio. Ele não respondeu a nenhuma das 25 perguntas que lhe foram feitas pelo juiz da Lava-Jato. "Eu vou permanecer em silêncio", repetiu 25 vezes o réu.
No entanto, Sérgio Moro fez questão de registrar suas perguntas com base em documentos anexados aos autos do processo em que Cerveró é réu. Ele é acusado de receber propina em contratos de navios-sonda da Petrobras.
A sequência de indagações do magistrado indica intenso fluxo financeiro em contas que, segundo a força-tarefa da Lava-Jato, seriam controladas por Cerveró. Ele foi questionado sobre uma transferência de US$ 40 mil em 23 de janeiro de 2008, na Suíça, um crédito de US$ 75 mil em 17 de setembro de 2008 e outro de US$ 299.973 em 14 de maio 2009.
Esta última seria relacionada à conta Forbal, sediada no Uruguai em nome da offshore Forbal Investment, constituída por Cerveró em 29 de abril de 2008, no paraíso fiscal de Belize, na América Central. A força-tarefa da Lava-Jato suspeita que a Odebrecht - maior empreiteira do País e cujo presidente, Marcelo Bahia Odebrecht, está preso - pagou propinas também para Cerveró.
"Tem conhecimento da conta Forbal?", perguntou Moro. "Não, quer dizer, vou permanecer em silêncio", esquivou-se o ex-diretor.
As informações sobre a conta Forbal constam de manifestação do Ministério Público Federal. A suspeita nasceu do rastreamento de uma operação de dólar-cabo feita, segundo a força-tarefa, pelo suposto operador de propinas da Odebrecht Bernardo Freiburghaus no banco Julius Baer, na Suíça, e o estatístico Alexandre Amaral de Moura. Em depoimentos aos procuradores, em 30 de junho, Moura detalhou a transação em que autorizou as transferências de US$ 300 mil para a conta Forbal, de Cerveró, e de US$ 340 mil para a conta Quinus, do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa.
A Odebrecht nega veementemente ter feito qualquer pagamento ou depósito para Nestor Cerveró ou para qualquer outro ex-dirigente da Petrobras - ou ainda para supostos intermediários.
Em uma ação criminal, Cerveró foi condenado a 5 anos de prisão por lavagem de dinheiro. No processo em que foi ouvido nesta quinta, ele é acusado de corrupção passiva, porque teria recebido US$ 30 milhões em propinas em contratos de navios-sonda da Petrobras, em 2006 e 2007.
Em uma pergunta, o juiz Moro citou também um crédito de US$ 194 mil em uma conta de Cerveró, em 31 de outubro de 2012, e uma transferência de US$ 150 mil em 7 de novembro de 2012. "O senhor quer dar uma olhadinha?", indagou o magistrado, exibindo cópia dos extratos bancários. "Vou permanecer em silêncio", insistiu o acusado.
"Sabe me dizer se o sr. recebeu valores no exterior do sr. Fernando Soares?", questionou Moro. "Eu vou permanecer em silêncio", repetiu Cerveró.