O lobista Júlio Camargo, um dos delatores da Operação Lava-Jato, afirmou à Justiça Federal nesta quinta-feira (16/7) que o senador Edison Lobão (PMDB-MA), então ministro das Minas e Energia, em 2011, ligou na sua frente para o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). "Eduardo, você está louco?". O telefonema, segundo o delator, teria ocorrido no final da tarde de um domingo na base aérea do aeroporto Santos Dumont, no Rio.
Na ocasião, o delator, segundo seu próprio relato, estava sendo pressionado pelo peemedebista, que queria receber propinas de US$ 5 milhões relativas a um contrato de navios-sonda da Petrobras. Julio Camargo diz que representava a empresa Mitsui, contratada pela estatal.
No encontro no aeroporto, Julio Camargo exibiu a Lobão cópia de um requerimento de informações que teria sido articulado por Eduardo Cunha. O documento original havia sido encaminhado ao Ministério das Minas e Energia, com indagações sobre os contratos da estatal com a Mitsui.
Segundo o lobista, o requerimento teria como objetivo pressionar a empresa, porque ele não estaria pagando uma parcela da propina que havia combinado. O deputado seria um dos "destinatários finais" de propina paga nos contratos de navios-sonda da Petrobras investigados pela Operação Lava-Jato.
Leia mais notícias em Política
"Em agosto de 2011, um representante da Mitsui no Rio de Janeiro me procurou no meu escritório, bastante assustado, com o requerimento assinado pela deputada Solange (Almeida - PMDB-RJ). Nesse requerimento encaminhado ao ministro de Minas e Energia, ministro Lobão, ela pedia, então, que todos os processos da Mitsui, sejam com a Petrobras diretamente ou com qualquer subsidiária da Petrobras, onde a Mitsui tivesse participação, que fossem remetidos ao Ministério de Minas e Energia para uma avaliação e eventual remessa dessa documentação ao TCU. Dizia também, se eu não estou enganado, pedia uma avaliação sobre a minha performance dentro desses contratos", afirmou.
Júlio Camargo diz que procurou o então diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, a quem pediu que fizesse contato com o ministro Lobão. Segundo o delator, Costa lhe disse. "Júlio, você está com sorte, o ministro Lobão está no Rio de Janeiro. Um minutinho só que eu vou ligar para ele."
Após falar com o ministro por telefone, Costa orientou Júlio Camargo a encontrar Lobão na base aérea Santos Dumont, por volta das ;18h, 18h30;. "Eu converso com ele", teria dito o ministro para o então diretor da estatal.
No aeroporto, segundo relato do lobista à Justiça Federal, ocorreu a seguinte conversa. "Eu disse a ele: ;ministro, está acontecendo um fato desagradável. Existe um requerimento disso, uma empresa que eu represento, que eu acho que só traz benefícios para o País, tem trazido dinheiro japonês barato, tem sido um constante financiador das obras da Petrobras e recebo um requerimento;. Mostrei para ele (Lobão) a cópia. A reação dele imediata foi a seguinte: ;Isto é coisa do Eduardo;. Pegou o celular e ligou para o deputado Eduardo Cunha na minha frente. E disse: ;Eduardo, estou aqui com o Júlio Camargo, você está louco?; Não sei qual foi a resposta do deputado. Mas ele disse (a Cunha): ;você me procure amanhã cedo no meu gabinete em Brasília, que eu quero conversar com você;. Ele desligou o telefone e disse: ;Júlio, o que te preocupa nesse requerimento? Existem coisas erradas?;. Eu falei: ;ministro, não tem nada errado;. Ele disse: ;Se não tem nada errado, não há o que se preocupar. O que eu posso fazer é pedir para acelerar a verificação desse processo para que isso termine o mais rápido possível;. ;Eu agradeço se o sr. fizer isso, já é uma coisa interessante;."
O advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, defensor do senador Edison Lobão (PMDB-MA), afirmou que seu cliente não vai comentar o conteúdo de delações. "Está acontecendo algo muito grave no Brasil. Há uma indústria das delações, onde os delatores dizem uma coisa e no outro dia dizem outra", protesta.
Kakay disse ainda que a defesa tentará anular na Justiça as delações e processar os responsáveis por informações inverídicas. Segundo ele, o mesmo procedimento será tomado por todos os seus clientes investigados pela Operação Lava Jato.
"A Polícia Federal fez uma busca e apreensão na casa do senador Ciro Nogueira por causa do relato de um delator sobre uma suposta relação dele com um advogado que ele nem conhece", disse. Segundo Kakay, o Ministério Público tem que "ter honradez de investigar as delações" porque "tem muito advogado vendendo proteção e ganhando dinheiro com elas", disse. "Os ministros do Supremo estão sendo induzidos ao erro", completou.