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Dilma diz estar preocupada com desemprego e com o preconceito de gênero

A entrevista foi concedida na quarta-feira (24), no Palácio da Alvorada, e publicada na noite de ontem (25) no site do Washington Post

Às vésperas de viajar aos Estados Unidos a presidenta Dilma Rousseff deu uma entrevista ao jornal norte-americano The Washington Post em que diz estar preocupada com o aumento do desemprego. Ela acredita na recuperação da economia a partir de 2016 e destacou que sofre preconceito de gênero na avaliação de sua administração.

A entrevista foi concedida na quarta-feira (24), no Palácio da Alvorada, e publicada na noite de ontem (25) no site do Washington Post.

Dilma defendeu o ajuste fiscal e disse que a mudança no rumo da política econômica do país não é uma decisão do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, mas de governo. ;Estamos absolutamente certos de que é essencial colocar em prática todas as medidas necessárias, não importa quão duras elas sejam, para retomar as condições de crescimento no Brasil. Algumas medidas são fiscais, outras são estruturais;, disse a presidenta à jornalista Lally Weymouth.

Ela destacou que está preocupada com o aumento do desemprego, mas que uma taxa de desocupação entre 6% e 7% não é alta. ;É claro que eu me preocupo com isso, me preocupei desde o primeiro dia. Houve um aumento do desemprego nos últimos dois meses. Mas antes disso, já tínhamos criado 5,5 milhões de empregos. Queremos realizar um ajuste rápido porque queremos reduzir o efeito do desemprego;.

Perguntada sobre a queda na aprovação de seu governo, cuja avaliação positiva caiu para 10%, segundo pesquisa Datafolha divulgada esta semana, Dilma afirmou que o tema a preocupa, mas não a faz ;perder os cabelos;.

;Você tem que conviver com as críticas e com o preconceito. Eu não tenho qualquer problema em assumir: quando se comete um erro, deve-se mudar. Em qualquer atividade, incluindo o governo, você deve incessantemente fazer ajustes e mudanças. Se você não fizer, a realidade não vai esperar por você. O que muda é a realidade;, frisou Dilma.

A presidenta também reclamou do que considera preconceito de gênero em algumas avaliações de sua gestão ao ser perguntada pela jornalista sobre sua fama de ;micromanager;, termo para definir um chefe centralizador ou controlador.

;Alguma vez você já ouviu alguém dizer que um presidente do sexo masculino coloca o dedo em tudo? Eu nunca ouvi falar disso;, comparou. ;Eu acredito que há um pouco de preconceito sexual ou um viés de gênero. Sou descrita como uma mulher dura e forte que coloca o nariz em tudo e estou cercada de homens meigos;, contestou.

Dilma também respondeu a perguntas sobre o esquema de corrupção na Petrobras. Ela disse que não tinha conhecimento das denúncias quando era ministra de Minas e Energia e presidia o Conselho de Administração da estatal. A presidenta voltou a dizer que a investigação só foi feita em seu governo. ;Você não costuma ver a corrupção acontecendo. Isso é típico de corrupção, ela se esconde;.

Em relação a visita aos Estados Unidos, que inclui um encontro de trabalho com o presidente Barack Obama, Dilma disse que espera estreitar relações com o país nas áreas de ciência, tecnologia e inovação, além de destacar que os Estados Unidos são os principais responsáveis pelo investimento privado no Brasil. ;Esperamos também cooperação no campo da educação, principalmente no ensino primário;.

Dilma também defendeu a ampliação de cooperação com países emergentes, com o Mercosul como ;uma grande conquista;, e disse que o Brasil tem uma ;dívida social e cultural; com o continente africano.

;A África será sempre um continente onde teremos que desempenhar um papel ativo, porque temos uma dívida humana, social e cultural em relação a África. Cinquenta e dois por cento da população brasileira se declaram de origem negra. Somos o maior país negro fora da África. As nossas relações com a África são, em última instância, uma reabilitação da nossa história passada, considerando as práticas de escravidão que prevaleceu no nosso país desde o século 16. Este país viveu sob a escravidão até 1888, e deve superar a ferida histórica deixada pela escravidão;, avaliou.

A presidenta embarca amanhã (27) para os Estados Unidos. A agenda inclui compromissos em Nova York com empresários; a reunião de trabalho com Obama, em Washington; e visitas a sede do Google, ao Centro de Pesquisas da Nasa e à Universidade Stanford, todos na Califórnia. Dilma deve retornar ao Brasil na manhã de quinta-feira, 2 de julho.