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Odebrecht e AG pagavam propina no exterior, dizem investigadores

Delegado Igor Romário e procurador Carlos Fernando afirmam que"a lei vale para todos" e que "não importa o poder econômico" para manter empresas impunes. Construtoras negam acusações. Propinas podem ter chegado a R$ 700 milhões

As construtoras Norberto Odebrecht (CNO) e Andrade Gutierrez (AG) pagavam propinas no exterior, num esquema ;sofisticado; de desvio de dinheiro da Petrobras. A afirmação foi prestada nesta sexta-feira (19/6) pelo delegado regional de Combate ao Crime Organizado da Polícia Federal no Paraná, Igor Romário de Paula, e pelo procurador regional da República Carlos Fernando dos Santos Lima, ambos investigadores da Operação Lava-Jato. Pela manhã, agentes da PF prenderam os presidentes das duas empresas, Marcelo Odebrecht e Otávio Azevedo, numa ação que cumpriu 59 mandados prisões, conduções coercitivas e apreensões de documentos.

Segundo os investigadores, o operador da Odebrecht é o Bernardo Freiburghaus, que fugiu do país e hoje vive na Suíça, e o da Andrade Gutierrez é Fernando Baiano, preso. As ações de hoje envolvem fechar o ciclo apurado na Lava-Jato. Os crimes de cartel e fraude em licitação estão bem delineados na participação das duas empreiteiras, disse Carlos Fernando hoje, conforme antecipou o Correio nas edições de 24 de março e 1; de junho. Agora, disse ele, foi comprovada documentalmente o esquema de corrupção.

[SAIBAMAIS]Segundo Carlos Fernando, colaboradores indicaram contas bancárias onde o dinheiro foi transferido, para países como Suíça, Mônaco e Panamá. Os valores foram identificados pela grupo de procuradores e policiais federais que atua em conjunto na Operação Lava-Jato.

Para os investigadores, a ação contra as duas gigantes da construção mostram que não há privilégios para criminosos

R$ 700 milhões
O delegado Igor Romário estima que as propinas pagas pela Odebrecht e AG tenham chegado a R$ 700 milhões aproximadamente. Apenas os contratos alvos dessa fase da Lava-Jato somam R$ 26 bilhões (sendo R$ 17 bilhões da CNO). Como a taxa de suborno indicada pelos delatores era de 1% a 3%, a corrupção seria de R$ 510 milhões para a Odebrecht e pouco mais de R$ 200 milhões para a Andrade Gutierrez.

Carlos Fernando lembrou que as duas empresas participaram de esquemas de cartel e fraude em licitação também fora da Petrobras, como nas obras da usina nuclear de Angra 3, no Rio de Janeiro.

Segundo os investigadores, a ação contra gigantes da construção mostra que personalidades de alto poder aquisitivo não estão imunes à repressão contra o crime. ;Não importa sua relevância na sociedade, sua capacidade de influência, seu poder econômico;, disse Igor Romário. ;Isso jamais vai poder ser prerrogativa para permitir a essas pessoas e empresas a praticar crimes de forma impune.;

O procurador Carlos Fernando destacou que "o governo; quer salvar as empreiteiras e punir apenas os executivos. Segundo ele, o Ministério Público, a PF e a Receita Federal pensam diferente. ;Devemos punir todos os responsáveis de acordo com sua responsabilidade, seja civil, improbidade e penal;, afirmou. ;Devemos punir todos, isso aqui é uma República. A lei deve valer para todos ou não deve valer para ninguém.;


Liderança do cartel
Como mostra o site do Correio hoje, a Odebrecht e a Queiroz Galvão lideravam o cartel e empresas junto com a UTC para combinar licitações, segundo depoimento inédito de um dos donos da Engevix Gérson Almada. Ele afirmou que as obras eram divididas em reuniões marcadas por Márcio Faria, da Odebrecht, Ricardo Pessoa, da UTC, e Othon Zanoide, da Queiroz Galvão.

Presos
Além dos presidentes da CNO e AG, a polícia prendeu hoje os executivos da Odebrecht Márcio Faria, Rogério Araújo e Alexandrino Alencar. Também foram presos João Antônio Bernardo Filho, Antônio Pedro Campelo de Souza, Flávio Magalhães e Cristina Maria da Silva Jorge. Os policiais aguardavam a apresentação do executivo da AG Elton Negrão de Azevedo e do ex-funcionário da empreiteira Paulo Dalmazzo, indicado pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa como contato em esquemas de corrupção. Até o momento a PF não conseguiu localizar César Ramos Costa, mas não o considera foragido pois ainda faltam informações de que ele não estaria em viagem de trabalho, por exemplo.



Desnecessário
A CNO e a AG negam participação no esquema. Em nota divulgada na manhã de hoje, a Odebrecht disse que as ações da PF são desnecessárias porque sempre tem colaborado com as investigações. ;Como é de conhecimento público, a CNO entende que estes mandados são desnecessários, uma vez que a empresa e seus executivos, desde o início da operação Lava-Jato, sempre estiveram à disposição das autoridades para colaborar com as investigações.;

A empreiteira sempre tem negado, ;veementemente, participar de esquemas de pagamentos de propina para obter contratos na Petrobras. A construtora ainda afirma que não participou de práticas anticoncorrenciais. A Andrade Gutierrez negou participação em cartel e em esquemas de pagamento de suborno para obtenção de contratos. ;A Andrade Gutierrez reitera, como vem fazendo desde o início das investigações, que não tem ou teve qualquer relação com os fatos investigados pela Operação Lava Jato, e espera poder esclarecer todos os questionamentos da Justiça o quanto antes;, disse nota da empresa.

Estranheza
A assessoria da AG disse que empresa considera ser colaboradora da Lava-Jato, ;causando estranheza as prisões;. A empreiteira ;está acompanhando o andamento da 14; fase da Operação Lava Jato e prestando todo o apoio necessário aos seus executivos nesse momento;. A construtora disse que colabora com as apurações da PF e espera rapidez no esclarecimento dos fatos. ;A empresa informa ainda que está colaborando com as investigações no intuito de que todos os assuntos em pauta sejam esclarecidos o mais rapidamente possível.;

A íntegra da nota da Odebrecht
A Construtora Norberto Odebrecht (CNO) confirma a operação da Polícia Federal em seus escritórios em São Paulo e no Rio de Janeiro, para o cumprimento de mandados de busca e apreensão. Da mesma forma, alguns mandados de prisão e condução coercitiva foram emitidos. Como é de conhecimento público, a CNO entende que estes mandados são desnecessários, uma vez que a empresa e seus executivos, desde o início da operação Lava Jato, sempre estiveram à disposição das autoridades para colaborar com as investigações.

A íntegra da última nota da Andrade Gutierrez
;A Andrade Gutierrez informa que está acompanhando o andamento da 14; fase da Operação Lava Jato e prestando todo o apoio necessário aos seus executivos nesse momento. A empresa informa ainda que está colaborando com as investigações no intuito de que todos os assuntos em pauta sejam esclarecidos o mais rapidamente possível. Este tem sido, inclusive, o procedimento da companhia desde o início das investigações, atendendo a convocações da Justiça ou comparecendo voluntariamente para apresentar documentos e prestar esclarecimentos, causando estranheza as prisões. A Andrade Gutierrez reitera, como vem fazendo desde o início das investigações, que não tem ou teve qualquer relação com os fatos investigados pela Operação Lava Jato, e espera poder esclarecer todos os questionamentos da Justiça o quanto antes.;