Pepe Vargas ainda explicou que do universo de adolescentes em privação de liberdade, 63% cumpre pena por furto, roubo ou tráfico de drogas e apenas 0,01% praticaram atos contra a vida. O ministro alertou para o risco de um agravamento de penas acabar afetando casos menos graves.
;O Congresso Nacional votou várias leis agravando penas. Seria interessante se conseguíssemos uma comissão que fizesse uma estatística e acompanhasse as leis agravadas e ocorrências. Ouso dizer que apesar de agravar a prática aumentou;, arriscou o ministro ao descrever exemplos de países, como os Estados Unidos, onde o número de adolescentes infratores cresceu depois que as penas foram aumentadas.
Ele ainda defendeu a manutenção do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) que prevê pena de no máximo de três anos para atos de grave ameaça ou violência à pessoa e de reincidência de infrações graves. De acordo com ele, as abordagens sobre o assunto precisam ser ;sistêmicas e integrais;, garantindo educação e formação técnico profissional dos jovens para a ressocialização depois do período de cumprimento das medidas.
O ministro do Superior Tribunal de Justiça, Sérgio Luiz Kukina, criticou o aumento da pena. O desembargador destacou que por quase 30 anos foi promotor público no Paraná e viveu próximo a realidade de adolescentes. ;Sou um dos maiores defensores de que o adolescente que cometa uma infração seja sim responsabilizado, todavia que seja à luz do ECA que traz repertório variado que atende a finalidade pedagógica que se pretende;, afirmou.
Kukina afirmou ser contrário ao texto que altera as medidas socioeducativas que tornam o tempo de internação mais severo. Ele ainda ressaltou a ;aprovação tardia; da lei do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase), que ocorreu em janeiro de 2012 que apenas agora tem ;bons resultados que começam a aparecer;. O desembargador avaliou que existe pouca reflexão sobre o tema da maioridade e das penas. ;É muito fácil dizer de longe que três anos é tempo reduzido para quem pratica um ato grave. Não é um tempo reduzido quando consideramos este tempo para um adolescente;, afirmou.
Um dos primeiros a falar em plenário, o deputado Rubens Bueno (PPS-PR), também afirmou ser contrário à redução da maioridade penal mas defendeu a revisão das atuais legislações sobre o tema, como o ECA, como forma de incentivar a ressocialização com estudos ou formação técnica profissional. ;Reduzir a maioridade não é efeito, é causa. Isenta o Estado da construção de políticas educativas;, avaliou.
Ao destacar o relatório subsitutivo que aumenta o tempo de internação, Bueno citou diversas leis que tratam sobre o assunto no país. ;Não adianta endurecer as leis se o próprio Estado não cumpre as que já existem. Nenhum tipo de experiência na cadeia pode contribuir para a reinserção social e educacional;, completou.