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30 anos depois, morte de Tancredo Neves ainda deixa lacunas, diz estudo

Pesquisa vai embasar pedido de reabertura de processos nos conselhos de classe

Aquela foi anunciada e prometida como uma cirurgia de rápida recuperação que, no máximo, adiaria a posse do presidente, marcada para 15 de março de 1985. Mas ocorreu o imponderável. Começava ali um drama que teria como desfecho a morte de Tancredo Neves em 21 de abril de 1985. ;Ele poderia ter tomado posse;, afirma o historiador e pesquisador médico Luis Mir, autor da obra O paciente.

Trata-se de estudo único do caso, que durou 25 anos. Trinta anos depois, ainda há lacunas em aberto: ninguém foi responsabilizado e paira o silêncio em torno do caso. ;Vamos requerer a reabertura ao Conselho Federal de Medicina e aos Conselhos Regionais de São Paulo e do Distrito Federal;, diz. Segundo ele, esse requerimento deve ser feito nesta semana.

O primeiro ato da agonia de Tancredo Neves se iniciou na noite de 14 de março de 1985. Tancredo sentia fortes dores abdominais. O clínico Renault Ribeiro e o cirurgião Francisco Pinheiro Rocha foram chamados, avaliaram o presidente e pediram novos exames. Tancredo foi convencido a se internar no Hospital de Base de Brasília para receber soro. Francisco Pinheiro Rocha comunicou à família que era necessário operar o presidente, imediatamente.

Quando na madrugada de 15 de março, à 1h10, os médicos abriram o peritônio do presidente eleito Tancredo Neves, não acharam um ;apêndice supurado;. Diferentemente, foi encontrado um leiomioma infectado, que crescia para fora do tubo intestinal. ;Era um tumor primário;. O leiomioma não representava risco de morte e poderia ser retirado em cirurgia programada.

O tumor foi removido com uma técnica denominada resseção em cunha, considerada inadequada para o leiomioma. ;É grande a probabilidade de o paciente sangrar. Foi o que aconteceu;, explica Mir. Outros procedimentos naquela madrugada também prejudicaram o paciente e traçariam o seu destino. ;Com a retirada abrupta da ventilação mecânica (extubação antecipada), o pulmão do presidente foi encharcado por excesso de líquidos, provocando uma atelectasia (colapso de parte ou de todo o pulmão);, afirma. O quadro que se instalou, edema agudo de pulmão, provocou uma parada cardiorrespiratória. Tancredo quase morreu.

Em 20 de março, a segunda cirurgia. Nela já estava presente Henrique Walter Pinotti, do Instituto do Coração (Incor). ;Foi uma laparotomia branca, com o diagnóstico equivocado de obstrução do intestino, o que provocou grande estresse ao paciente. O pós-operatório foi também calamitoso;, afirma Luis Mir. ;Ao mesmo tempo, o sangramento da sutura da primeira operação, que poderia ter sido, mas não foi corrigido nesta segunda cirurgia, acabaria em hemorragia catastrófica;, afirma o pesquisador.

Em 25 de março, pouco mais de três horas depois de ter sido divulgada uma foto ;montada; que mostrava ao país a ;recuperação; de Tancredo Neves para a sonhada posse, o presidente teve uma nova hemorragia, desta vez maciça. Em 26 de março, Tancredo Neves foi transferido para o Instituto do Coração (Incor).

;Eu não merecia isso;, foi uma das frases que Tancredo Neves pronunciou e foi ouvida por vários médicos, ao se dar conta de que não escaparia. Em 12 de abril, no Incor, o primeiro presidente civil depois de 20 anos de ditadura militar foi sedado definitivamente e se tornou um paciente terminal. Nove dias depois, o assessor de imprensa Antonio Britto anunciou ao país a morte do presidente eleito.