Curitiba ; Delegados da Polícia Federal denunciaram nesta sexta-feira (17/4) que diárias de várias operações não estão sendo pagas, inclusive da Lava-Jato, a maior investigação de corrupção da história do país. Eles entendem que há um risco de ;matar à míngua; a apuração e não descartam que essa seja uma forma de minar o caso por haver envolvimento de pessoas ligadas ao PT e ao governo federal.
Segundo o presidente regional da Associação dos Delegados da Polícia Federal (ADPF), Eduardo Mauat da Silva, há cerca de dois meses os pagamentos não são feitos aos investigadores e acumulam-se num volume de aproximadamente R$ 200 mil. A Lava-Jato é composta por cerca de 25 a 30 policiais. São seis delegados, segundo apurou o Correio.
[SAIBAMAIS]O presidente do sindicato da categoria no Paraná (Sindipf), Algacir Mikalovski, afimou que os colegas ;tiram do bolso; ou ;de seus cartões de crédito; os recursos para tocar as apurações. Mauat disse que a Lava-Jato não teve nenhum ato interrompido pela falta de diárias ou mesmo de suprimentos, porque os agentes e delegados estão arcando com as despesas que deveriam ser assumidas pela corporação.
Ele afirmou que há uma preocupação dos delegados que a Operação seja estrangulada financeiramente. Mauat afirma que jornalistas lhe perguntam se o eventualmente o governo atrapalha a Lava-Jato intencionalmente pelo fato de haver envolvimento de pessoas do PT, partido que comanda o Poder Executivo. E ele tem respondido: ;Eu diria: ;Não sei;, mas nós vamos ver o que vai acontecer nos próximos meses;. ;Você pode matar uma operação à míngua se você tirar os recursos dela de maneira sutil;, disse o presidente regional da ADPF. ;Vamos ficar atentos a isso. Há um prazo. Se o governo não realocar algumas rubricas, porque há dinheiro no orçamento, para pagar essas diárias. Não queremos acabar perdendo policiais.;
Entre 60% e 70% dos quase 30 integrantes da Lava-Jato são de fora de Curitiba e estão na cidade mantidos em hotéis pagos por eles mesmos por causa da falta de diária. O valor das diárias está de cerca R$ 200 por dia.
Obrigação
Mikaloviski e Mauat contrariaram o discurso do governo Dilma Rousseff de que eles incentivam as investigações ;doa a quem doer;, ao contrário do governo do PSDB, quando a PF não tinha tantas investigações. O presidente do sindicato diz que é ;obrigação; dar estrutura para a polícia investigar. ;O governo tem a obrigação de dar essa estrutura;, disse Mikalovski. ;Não é uma benesse. A ausência dessas estruturas tem que ser cobrada.;
Já Mauat afirmou que o discurso de divisão entre partidos não deve ser levado em conta. Ele avalia que a melhoria econômica do país na década passada, durante o governos de Luiz Inácio Lula da Silva, influenciou a PF. Com mais recursos, mais salários e mais policiais, a corporação aumentou sua eficiência. ;De fato aconteceu [a melhora];, disse Mauat. Mikalovski avaliou que o governo não define o que será investigado ou não, mas apenas fornece meios para as apurações seguirem tecnicamente. ;Não está ligado a A, B o C. Se vier um outro governo de outro partido, e as operações aumentarem, não será mérito do outro governo;, analisou Mauat.