postado em 14/04/2015 08:58
No ano em que a crise hídrica se agravou no Brasil, o país registrou 127 conflitos por água, mostra relatório feito pela Comissão Pastoral da Terra (CPT). O número de 2014 é o maior desde que o levantamento começou, em 2005. Se multiplicarmos as 42.815 famílias envolvidas pelo número médio de cinco pessoas que compõem uma família rural, conforme a metodologia usada pelo estudo, 214.075 brasileiros foram afetados pela luta por recursos hídricos. Os registros mais recorrentes são ações de resistência, em geral coletivas, para garantir o uso e a preservação da água e lutas contra a construção de barragens e açudes. Os conflitos resultaram em 36 assassinatos em 2014, dois a mais do número registrado no ano anterior.O cenário seria ainda mais grave se o levantamento incluísse áreas urbanas, pois traria o impacto da crise hídrica no Sudeste. ;Ao somarmos a população do Rio de Janeiro, de São Paulo e do interior do estado, temos mais de 37,8 milhões de brasileiros urbanos, de alguma forma envolvidos nesses conflito;, diz o texto da Comissão Pastoral da Terra. Os dois estados entram em disputa pelo uso da água do Rio Paraíba do Sul, que afetou ainda Minas Gerais. A falta de água em centros urbanos médios e grandes obrigou os governos estaduais e federal a fazerem obras rápidas para abastecer pessoas no seu uso cotidiano, como a Adutora Pajeú, em Pernambuco, cujas obras foram encerradas em 2014.
Para Isolete Wichinieski, integrante da CPT, o principal destaque é o deslocamento das lutas pelo país. ;Nos primeiros anos, os conflitos eram maiores na Região Norte, nos estados do Pará e Rondônia. De uns anos para cá, Minas Gerais e Bahia têm se destacado devido ao avanço das mineradoras e da construção de barragens;, afirmou. Ela chama a atenção ainda para o fato do número de conflitos no segundo semestre do ano passado. ;Em ano eleitoral, normalmente os casos se reduzem;, afirma Wichinieski. Tanto em Minas Gerais quanto na Bahia foram registrados 26 conflitos. Ao se considerar todo o período de 2005 a 2014, observa-se que o número de famílias atingidas é maior em estados onde há grandes projetos de desenvolvimento econômico. No Pará, 69.302 famílias foram afetadas em lutas hídricas, a maioria devido à construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, na região de Altamira.
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