Jornal Correio Braziliense

Politica

Graça Foster disse na CPI da Petrobras que Lava-Jato fez bem à empresa

Ex-presidente da estatal afirma estar constrangida com o caso, mas ressalta que não acredita na corrupção institucionalizada dentro da empresa

No depoimento, hoje (26/3), à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras da Câmara dos Deputados, a ex-presidente da estatal Graça Foster disse que os desdobramentos da Operação Lava-Jato fazem bem à empresa. Ela acrescentou que as investigações estão mudando o país e representam uma lição "que não vai ser esquecida nunca mais".

"Não posso deixar de repetir aqui o bem que a Lava-Jato está fazendo à Petrobras", ressaltou a ex-presidenta da petrolífera aos deputados. Ela disse estar constrangida com casos de corrupção na Petrobras e que acredita que a corrupção começou fora da empresa. "Eu passo horas dos meus dias pensando no que aconteceu com a Petrobras;.

Graça Foster afirmou que ;poderia ter todas as suspeitas;, mas faltavam os fatos apurados. Ao mesmo tempo, disse sentir um ;constrangimento muito grande; ao ter que comparecer na CPI para tratar do assunto.

Ela frisou que não acredita que houvesse corrupção institucionalizada na empresa, afirmação defendida pelo também ex-presidente da estatal José Sérgio Gabrielli. Nas mais de cinco horas de depoimento, Graça Foster respondeu as perguntas dos parlamentares relativas a compra da Refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, a construção da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, e sobre a participação da Petrobras nos projetos que envolvem a transportadora Gasene e a empresa Sete Brasil.

Para ela, aos ;olhos de hoje;, a compra da Refinaria de Pasadena foi um erro. ;Dizer que Pasadena é um mau negócio em 2014 e 2015 é fácil, mas a questão de Pasadena lá atrás de fazer uma Revanp [investimentos necessários para aumentar a capacidade de refino] pareceu ser um negocio positivo;, afirmou.

Leia mais notícias em Política

Ao falar da Abreu e Lima, a ex-presidente da Petrobras afirmou que o aumento do custo final da refinaria deveu-se a ausência de um projeto básico estruturado. Estimada em US$ 2,5 bilhões, a refinaria teve seu valor final orçado em US$ 18,5 bilhões, em razão de uma série de aditivos ao contrato. ;Se você não tem projetos básicos de qualidade, você vai ter aditivos. Na Abreu e Lima a questão principal foram as mudanças sucessivas no projeto. Até as características do petróleo que seria refinado ali mudaram durante o processo;, explicou.

Ao tratar do caso envolvendo a empresa holandesa SBM Offshore, Graça Foster defendeu sua gestão e disse que mandou cancelar todos os contratos da Petrobras com a empresa assim que soube do pagamento de propinas a diretores da estatal.

Ela defendeu o projeto de estruturação da empresa Gasene, uma sociedade para fins específicos (SPE) aberta para construir um gasoduto entre o Espírito Santo e a Bahia, assim como o projeto de estruturação da empresa Sete Brasil, responsável pela construção de 28 sondas de perfuração em águas ultraprofundas. Mas disse ter ficado envergonhada ao descobrir que o ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco recebeu propina na avaliação do projeto. ;Tenho orgulho de ter participado disso, mas tenho vergonha também;, explicou.

Foster disse que a governança da empresa precisava ser melhor para poder ter detectado ;o caos de corrupção;, mas que assim que detectou maus feitos criou a diretoria de Governança e Compliance.

A ex-dirigente da Petrobras destacou que o valor contábil de R$ 88 bilhões referentes a perdas da estatal, que consta no balanço da empresa, apresentado ao Conselho de Administração em janeiro deste ano não foi fruto somente de corrupção. Segundo Graça Foster o valor inclui ;uma série de ineficiências; e as chuvas e ;outros fatores; que não representam o número da corrupção.

Os próximos depoimentos marcados pela CPI são os do ex-gerente-geral da refinaria Abreu e Lima Glauco Legatti, previsto para o 31 de março. Na semana seguinte, deve ser ouvido o novo diretor de Gás e Energia da companhia, Hugo Repsold.