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Alckmin admite racionamento de água e multa volta a ser cobrada

Ao contrário do que disse no período eleitoral, o governador de São Paulo reconhece a diminuição no fornecimento de água na capital

Depois de passar o período eleitoral negando problemas com o abastecimento de água de São Paulo, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) admitiu ontem pela primeira vez que há racionamento de água desde o ano passado. A declaração ocorreu um dia depois da decisão da Justiça que suspendia o adicional que seria cobrado do consumidor que gastasse mais água que a média dos últimos 12 meses ; no fim da noite de ontem, o presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, José Renato Nalini, derrubou a decisão da juíza da 8; Vara de Fazenda Pública, Simone Leme, e a cobrança voltou a valer. A oposição criticou o tucano e o acusou de ter cometido ;estelionato eleitoral;.

[SAIBAMAIS]A juíza Simone Leme sustentava que o governo deveria ter inicialmente adotado um racionamento oficial e só depois instituir a sobretaxa. Mas, para Alckmin, não é preciso utilizar a prática porque ela já está em andamento. ;O racionamento já existe, quando a ANA (Agência Nacional de Águas) determina. Quando ela diz que você tem que reduzir de 33 metros cúbicos para 17 metros cúbicos por segundo no Cantareira, é óbvio que você já está com restrição. O que estou dizendo é que se tirávamos 33 metros cúbicos por segundo de água, e hoje estamos tirando 17, é óbvio que nós temos uma restrição hídrica;, disse.

O governador, entretanto, desconversou quando foi questionado sobre o discurso que sustentou na campanha. ;Não tem racionamento no sentido de ;fecha o sistema e abre amanhã;. Isso não tem. E nem deve ter. Agora, restrição hídrica, claro que tem;, justificou Alckmin.

Ex-ministro da Saúde e candidato derrotado ao governo de São Paulo, Alexandre Padilha (PT) criticou o governador. ;Passada a eleição, o mesmo governador que no debate disse ;não falta água em São Paulo; agora admite que há racionamento! Estelionato eleitoral!”, alfinetou em uma rede social. ;Aguardando se Alckmin irá admitir também que São Paulo piorou seus indicadores de educação e cresceram o número de roubos e o de mortes pela Polícia Militar em 2014;, emendou.

Cantareira

Para o professor Sérgio Koide, do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade de Brasília (UnB), Alckmin realmente não admitiu o racionamento anteriormente por uma ;questão eleitoral; e agora o faz por necessidade. ;O Cantareira está seco. O governador não assumiu no ano passado por uma questão política, porque era período eleitoral. Mas o racionamento já estava sendo feito. (...) Agora, ele fala abertamente isso porque o Ministério Público e a Justiça o obrigam ao questionar a decisão de cobrar multa aos consumidores que usarem mais água. Então, ele admite claramente para viabilizar essa medida;, diz.

Koide explica que há dois tipos de racionamento. ;Há aquele em que se avisa: dia tal não terá água no bairro tal, como está sendo feito em algumas cidades do interior. A outra forma é diminuir a pressão. Nesses casos, nos horários de pico, quem mora em locais mais altos e nas periferias fica sem água. É o caso da capital paulista;, diz o professor.

Como reação à crise hídrica, o professor avalia que Alckmin foi ;sábio; ao montar a equipe do novo mandato. ;Ele escolheu nomes de peso, com gabarito, experiência e estudiosos na área: o Benedito Braga, como secretário de Recursos Hídricos, que foi diretor da ANA, e o Jerson Kelman, diretor da ANA;, diz. O professor ressalta, porém, que a solução para a crise não será imediata. ;O Sistema Cantareira vai continuar sem água. Não vai dar para recuperar com essa quantidade. Vai ter que esperar por chuvas dos anos seguintes. Então, o racionamento ainda será longo.;

À frente da Sabesp, Kelman disse ontem ao telejornal SPTV, Rede Globo, que há possibilidade de o Cantareira secar em março. ;É possível que sim, em março, que o Cantareira seque. Se continuar assim, é possível que sim. Por isso que estamos fechando as torneiras.;