O ex-diretor de Refino e Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, anunciou que não responderá às perguntas dos deputados e senadores que compõem a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) da Petrobras. Na tarde desta terça-feira (3/12), Costa e Nestor Cerveró, ex-diretor da área internacional da estatal, estão sendo acareados na CPMI que investiga as denúncias de corrupção na estatal.
[SAIBAMAIS] Costa alegou que a delação premiada, que permanece em sigilo, o impede de se pronunciar sobre os pontos já relatados à Justiça Federal. Caso ele o fizesse, poderia perder os benefícios da delação, como a prisão domiliciar.
"Não vou responder a nenhuma pergunta, devido a esse processo que estou passando. Todas as dúvidas em relação a esse processo foram esclarecidas ao Ministério Público, à Polícia Federal e ao juiz (federal) de Curitiba (Sergio Moro). Isso consta de todo o processo de delação, que foi bastante exaustivo e muito longo. Não tenho nada a acrescentar, tudo o que eu precisava falar consta nesses processos que estão na mão dessas pessoas", pontuou.
Politização de diretorias
Apesar de não ter falado sobre tópicos presentes na delação, Costa disse que "confirma" todo o teor dos 80 depoimentos que prestou à Polícia Federal e à Justiça Federal. Engenheiro mecânico, ele fez um rápido comentário, no início da sessão, no qual disse que "o sonho de qualquer empregado da Petrobras é chegar a diretor, e quem sabe a presidente da companhia".
"Mas desde o governo Sarney, Collor, FHC, Lula, Dilma, todos os diretores da Petrobras e de outras empresas, se não tivessem apoio politico, não chegavam a diretor", explicou em tom de lamentação. "Infelizmente, me arrependo, porque estou sofrendo isso na carne. Aceitei uma indicação política para a diretoria de abastecimento. Estou extremamente arrependido. Se pudesse, não teria feito isso. Infelizmente, isso aconteceu", lamentou.
"E não é só na Petrobras. Acontece no Brasil inteiro: nas rodovias, ferrovias, portos, hidrelétricas, isso acontece no Brasil inteiro. É só pesquisar, porque acontece", completou.
Arrependimento
Segundo o ex-diretor, que cumpre prisão domiciliar no Rio de Janeiro como benefício da delação premiada, o mecanismo não foi sugerido por advogados, mas pela própria família.
"Quem me colocou com clareza para eu fazer a delação foi minha esposa, filha, genros e netos. Paulo, por que só você? E os outros? Você vai pagar sozinho por uma porção de coisas que estão erradas?", lembrou. "Fiz a delação para dar um sossego para à minha alma e por respeito e por amor à minha família", justificou.
"(A delação) é um instrumento extremamente sério, e não pode ser usado para coisas que não possa ser possivel confirmar. Nos 80 depoimentos que fiz, mais de duas semanas, o que está lá, eu confirmo", finalizou.
Acareação
Costa e Cerveró foram convocados para confrontarem depoimentos contraditórios que prestaram anteriormente. À própria CPMI, em setembro, Cerveró negou que a compra da refinaria de Pasadena, nos EUA, tenha sido um mau negócio para a estatal. O ex-diretor da área internacional também disse não saber do esquema de corrupção desbaratado pela Operação Lava Jato, da Polícia Federal. Já Paulo Roberto Costa disse que Cerveró é justamente um dos beneficiados da suposta propina.