Enquanto o ex-diretor Paulo Roberto Costa se negava a falar à CPI Mista da Petrobras, os parlamentares oposicionistas, além de reclamar do silêncio do depoente, centraram suas forças na apresentação de requerimentos para dar continuidade às investigações. Só na quarta-feira (17), foram 14 entregues à comissão de inquérito, entre pedidos de convocações, quebras de sigilo e cópias de documentos. Desvendar uma possível conexão entre o doleiro Alberto Youssef e o mensalão é um dos objetivos da oposição.
Um dos requerimentos, do deputado Onyx Lorenzoni (DEM-SP), pede a convocação do empresário mineiro Marcos Valério, que cumpre pena em regime fechado após ter sido condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no processo do mensalão.
Ao justificar o requerimento, o deputado informa que a Polícia Federal apreendeu no escritório de Meire Poza, ex-contadora do doleiro Alberto Youssef, um contrato de empréstimo no valor de R$ 6 milhões entre Valério e o empresário do ABC paulista Ranan Maria Pinto.
Onyx destaca ainda que na capa do contrato estava escrito à mão as palavras ;Confidencial; e ;Enivaldo;. Na opinião do parlamentar, trata-se de Enivaldo Quadrado, condenado a prestar serviços comunitários pelo STF na ação penal do Mensalão. Enivaldo também foi preso em março desde ano na Operação Lava Jato, da Polícia Federal, que desmontou o esquema de corrupção e lavagem de dinheiro que Youssef é acusado de integrar.
Pressão
Durante a sessão marcada pelo silêncio de Paulo Roberto Costa, parlamentares da oposição insistiram numa ligação entre a quadrilha de Youssef e o escândalo do esquema de compra de apoio parlamentar conhecido como mensalão.
"A minha dúvida é zero de que o senhor Paulo Roberto Costa foi colocado na Diretoria de Abastecimento [da Petrobras] pelo senhor Janene [ex-deputado do PP], que pilotava naquela época um esquema de corrupção ligado ao mensalão, sob comando e supervisão de José Dirceu (ex-ministro da Casa Civil)", disse Onyx Lorenzoni.
"Esse não é o mensalão dois. É o mesmo mensalão com fontes diferentes pagando políticos. O operador lá atrás era Marcos Valério e o operador agora é Paulo Roberto Costa", afirmou o deputado Fernando Francischini (SDD-SP).
Os aliados, por sua vez, rebateram alegando que o governo tem dado total liberdade para que Polícia Federal e Ministério Público investiguem possíveis desvios de dinheiro na Petrobras. Além disso, para eles, a oposição tem usado as denúncias para fins políticos e eleitorais:
"Infelizmente, o jogo que aqui se faz é o jogo da disputa política. O discurso radical que muitas vezes é feito aqui tem muito mais um objetivo político. Não podemos dizer que há um animus investigatório da parte de todos que aqui estão", afirmou o senador Humberto Costa (PT-PE).
Deliberação
Para que os requerimentos sejam votados pela comissão de inquérito é necessária a realização de reunião deliberativa, a ser marcada pelo presidente da CPI Mista, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB).
A comissão já aprovou a convocação de outros envolvidos nas investigações da PF e do Ministério Público. Entre eles, genros de Paulo Roberto Costa, do doleiro Alberto Youssef e da contadora Meire Poza. Todavia, a data para os depoimentos ainda não foram marcadas.
O próximo compromisso dos integrantes da CPI é na terça-feira (23), quando os parlamentares têm encontro marcado com o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, para pedir o compartilhamento das informações prestadas por Paulo Roberto Costa no acordo de delação premiada com o Ministério Público e a Polícia Federal.