Jornal Correio Braziliense

Politica

Pesquisadores querem colocar a favela como tema da disputa presidencial

Dilma e Aécio recebem livro que traça radiografia das comunidades brasileiras. Obra também será entregue a Marina


Os candidatos do PSDB e do PT à Presidência da República, Aécio Neves e Dilma Rousseff, respectivamente, serão os primeiros concorrentes da disputa a receber o livro Um País Chamado Favela, que traça uma radiografia das favelas brasileiras. A candidata Marina Silva, do PSB, receberá o livro em data ainda a ser confirmada. O trabalho aborda a situação de 63 favelas brasileiras a partir de visitas e entrevistas com 2 mil moradores. O objetivo é interferir nas políticas públicas destinadas a essa população.

Celso Athayde, criador da Central Única das Favelas (Cufa), disse hoje (12) à Agência Brasil que se trata de reflexões sobre o que é preciso melhorar a partir do diagnóstico que foi traçado das favelas em todo o país. Há consenso em torno de temas como segurança pública e saúde, que ele considera de maior dificuldade de implantação nessas áreas do que no asfalto. ;Todas elas clamam por isso, pedem por isso de maneira muito forte;. De acordo com o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010, existem no Brasil em torno de 11,5 milhões de pessoas que vivem em aglomerados subnormais, as chamadas favelas. Athayde afiançou, porém, que o número é bem maior do que esse, na realidade.



O criador da Cufa considera essencial que as favelas sejam incluídas na pauta das eleições presidenciais porque são ;o quinto maior espaço de voto, ou colégio eleitoral, do país;. Ele disse que as favelas precisam organizar os seus discursos, a partir das suas práticas. ;O que a gente está tentando fazer no momento é, a partir de uma pesquisa científica, mostrar quais são os desafios que a gente tem nos anos que estão por vir. Isso tem que estar na pauta;.

No Rio de Janeiro, Athayde disse ser favorável à ampliação ao número de unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) nas comunidades, desde que melhore o relacionamento entre policiais e moradores e que a polícia tenha melhor qualificação. ;Na verdade, quando você coloca polícia e não consegue acabar com o tráfico de drogas, você tem um ganho, que é reduzir a perda de vidas, mas na medida em que o tráfico continua, você acaba tendo uma outra questão que é a disputa de poder entre a polícia e o tráfico;. O morador, enfatizou, "fica o tempo todo ameaçado pelos dois lados, dentro de um conflito permanente e maior que aquele que já tinha;.

Celso Athayde enfatizou que o ideal é não existir favelas, mas um projeto de habitação, segurança e transporte que deem condições para que essas pessoas morem com dignidade e segurança, com infraestrutura de transportes. ;Porém, enquanto as favelas existirem, nós precisamos que elas sejam ouvidas e que façam parte da pauta. É preciso que esses parlamentares ou gestores nacionais pensem em políticas para essas pessoas. Do contrário, a cada ano que passe, nós só teremos aumentado a distância entre o país que se desenvolve e o país que continua subdesenvolvido;, apontou.

O primeiro candidato a receber um exemplar do livro, no próximo domingo (14), pela manhã, é Aécio Neves. O trabalho será apresentado pelos autores, Renato Meirelles, presidente do instituto de pesquisas Data Popular, e o próprio Celso Athayde. A presidenta Dilma Rousseff, que concorre à reeleição, receberá o seu na segunda-feira (15), à tarde, também na sede da Cufa, em Madureira, zona norte do Rio.