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'Não tinha outra saída', diz ex-guerrilheiro que entregou companheiros

Guerrilha do Araguaia é tema de audiência pública na Comissão Nacional da Verdade (CNV). Militares convocados não compareceram



"Eu passava dia e noite sendo interrogada. Quando, por cansaço, cochilava, me acordavam com choques elétricos. Nunca me penduraram no pau de arara, eu acho que porque a barriga não permitia", contou Crimeia. "Diziam que eu ia morrer em um acidente de carro. Todas as noites eu era levada até o carro, onde passava a noite esperando que saíssem com o carro me levando. Ao fim de um tempo, eles diziam que havia acontecido algo e que o ;acidente; ficara para a noite seguinte", acrescentou a militante, que deu à luz na prisão. "Ele [o filho] parecia um daqueles meninos de Biafra, que, na época, era o país africano da fome. E, logicamente, com uma mãe neurótica, meu filho, como todos nós, tem suas sequelas."

Criada em 2011, por lei federal, a Comissão Nacional da Verdade tem o objetivo de apurar as violações aos direitos humanos registrados entre 18 de setembro de 1946 e 5 de outubro de 1988. A princípio, os trabalhos não tem a finalidade de incriminar ou servir de base à recomendação de punição aos militares acusados de violar direitos humanos, mas sim esclarecer os fatos para recompor a "verdade histórica e promover a reconciliação nacional". As conclusões da comissão deverão constar do relatório final a ser apresentado até 16 de dezembro deste ano, mas a data ainda pode ser prorrogado. Mais de mil depoimentos já foram colhidos pela CNV.