A Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro (CEV-RJ) apresentou nesta sexta-feira (7/2) documentos que comprovam que os órgãos de repressão do governo militar deram informações falsas sobre o caso do ex-deputado Rubens Paiva, dado como desaparecido em 20 de janeiro de 1971.
De acordo com o presidente da comissão, Wadih Damous, o coronel reformado Raymundo Ronaldo Campos, em depoimento à comissão em novembro, informou que a versão oficial de que Paiva foi resgatado por guerrilheiros no Alto da Boa Vista e desapareu na mata, não é verdade.
;O coronel Raymundo revela que lhe foi atribuída a missão de montar esse cenário. O então comandante do [Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna] DOI-Codi, o major [Francisco] Demiurgo [Santos Cardoso], determinou a ele que levasse o Volkswagen até determinado ponto no Alto da Boa Vista e lá fizesse o que ele fez, com os dois sargentos que o acompanhavam: tentaram incendiar o carro com tiros de pistola, não conseguindo, riscaram um fósforo e tacaram no tanque de combustível, o carro pegou fogo e explodiu. A partir daí montou-se a farsa que perdurou 43 anos;.
Segundo o depoimento de Campos, o ex-deputado teria sido morto sob tortura. ;Essa farsa foi justificada pelo comandante, que interpelado pelo próprio coronel Raymundo, disse que era preciso montar aquela história porque um prisioneiro havia sido morto em interrogatório no DOI-Codi;, informou Damous.
No depoimento, consta que o coronel não viu Rubens Paiva em nenhum momento e só soube o nome do preso político que havia morrido quando retornou da missão, sem ter recebido nenhum detalhe das condições da morte nem do destino do corpo.
Segundo o presidente da CEV-RJ, as conversas com o coronel Campos duraram dez meses, até ele concordar em prestar um depoimento formal. As informações só foram reveladas agora porque poderiam atrapalhar as investigações, além do coronel não ter autorizado, a princípio, a divulgação das informações, mudando de ideia depois.
Damous diz que foram citadas pessoas ainda vivas, que poderiam esclarecer aonde está o corpo de Rubens Paiva. ;O coronel faz menção, no seu depoimento, ao general reformado José Antônio Nogueira Belham e ao então tenente Armando Avólio. O general Belham era comandante no DOI-Codi e, pelas informações que temos, estava em serviço no dia do assassinato de Rubens Paiva, e o tenente Avólio também é mencionado como o autor da perícia no carro incendiado no Alto da Boa Vista, sob alegação de que foi atacado por terroristas. Então, nesse sentido, são duas pessoas chaves que podem esclarecer o que aconteceu com Rubens Paiva e aonde ele está enterrado;.
A CEV-RJ pretende trocar informações com a Comissão Nacional da Verdade para verificar se Avólio e Belham já prestaram depoimento e se o caso Rubens Paiva foi tratado. A comissão também apresentou documentos do acervo do Sistema Nacional de Informação (SNI) do Arquivo Nacional que mostram que os filhos e a viúva de Rubens Paiva foram monitorados até pelo menos 1984, data do último documento encontrado.