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Politica

Médico cubano que fugiu do país diz que colegas são explorados pelo governo

Jiménez, que há três anos exerce a profissão de médico no Ceará, foi um dos participantes da sessão da comissão geral da Câmara dos Deputados

O médico Carlos Rafael Jorge Jiménez criticou nesta quarta-feira (4/9) a remuneração dos médicos cubanos que atuarão no Brasil por meio do Programa Mais Médicos, por não receberem integralmente a bolsa de R$ 10 mil. Segundo ele, os médicos do seu país recebem entre R$ 60 e R$ 70 por mês de trabalho em Cuba e no Brasil devem ganhar entre R$ 450 e R$ 700. O restante será entregue ao governo cubano. Jiménez fugiu de Cuba há 12 anos e naturalizou-se brasileiro.

;O explorador é o governo cubano, e o governo brasileiro está apoiando a vinda deles. Por que os médicos cubanos não podem entrar e sair quando querem, por que não podem pedir asilo político?;, questionou. Carlos Rafael Jorge Jiménez relatou que os cubanos estavam sendo preparados para vir ao Brasil há pelo menos um ano com aulas de português e de funcionamento do Sistema Único de Saúde (SUS).

Jiménez, que há três anos exerce a profissão de médico no Ceará, foi um dos participantes da sessão da comissão geral da Câmara dos Deputados, ocorrida hoje no plenário da Casa, convocada para debater a Medida Provisória (MP) 621, que cria o Programa Mais Médicos.



O advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, durante o evento na Câmara, rebateu as críticas do deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO), que comparou a forma de trabalho dos médicos cubanos no Brasil ao trabalho escravo. Segundo ele, o país tem uma das legislações mais avançados do mundo no combate ao trabalho escravo. ;Acho desrespeitoso atribuir a prefeitos, profissionais de universidades públicas, qualquer tipo de acusação de compartilhar com o regime de trabalho escravo. Não há, nesse ponto, nenhuma falta de transparência;, disse Adams.

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, que também participou da sessão, ressaltou que não se deve banalizar o termo trabalho escravo e disse que não há paralelo com esse tipo de trabalho nas formas de cooperação de Cuba com 58 países que receberam médicos cubanos. ;Alguém acha que a União Europeia ira permitir trabalho escravo em Portugal?;, questionou.

O presidente da Federação Nacional dos Médicos (Fenam), Geraldo Ferreira, disse que a entidade não é contrária à contratação de profissionais estrangeiros, mas considera que as feitas pelo Programa Mais Médicos não são legais. ;Já recorremos ao Ministério Público Federal e ao Tribunal de Contas da União para questionar a medida;, disse. Ele também acusou o programa de eleitoreiro.