A Comissão Nacional da Verdade quer ouvir 400 pessoas sobre casos de tortura ocorridos durante a ditadura militar e a Polícia Federal irá ajudar a intimar quem não atender à convocação, informou nesta terça-feira (27/8) o novo presidente da comissão, o advogado José Carlos Dias. Segundo ele, caso o depoente se recuse a comparecer, poderá responder pelo crime de desobediência.
O advogado disse que segunda-feira (26/8) ele e sua antecessora na presidência, Rosa Cardoso, se reuniram com a direção da Polícia Federal ;para tratar da convocação de pessoas que vão ser ouvidas como responsáveis pela prática de graves violações dos direitos humanos;. De acordo com Dias, a comissão tem poder legal para convocar os depoentes, e não apenas para convidar. ;Não queremos cair no mesmo erro praticado pela ditadura, e quem vier depor terá todas as garantias constitucionais, inclusive com a presença de seus advogados;, disse, lembrando o caso do coronel da reserva Carlos Alberto Brilhante Ustra, que foi ouvido pela comissão depois de conseguir um mandado de segurança que lhe permitia ficar em silêncio.
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Diante do grande volume de trabalho, Dias informou que a Presidência da República avalia o pedido de prorrogação por seis meses o funcionamento da comissão, que tem até maio de 2014 para entregar relatório final.
Entre os depoimentos que a comissão pretende ouvir estão de vítimas de torturas e de empresários que teriam financiado ações do regime. ;Hoje, há uma convicção cada vez mais firme de que o golpe de 1964 foi cívico-militar. Houve muitos civis envolvidos no patrocínio à repressão;.
O novo presidente informou que as Forças Armadas têm colaborado e prestado informações à comissão. ;Existe diálogo permanente com as Forças Armadas e há boa vontade para nos atender;. O contato, segundo Dias, tem sido feito pela cientista política Glenda Mezarobba, consultora da comissão, ;que realiza um trabalho muito importante para vencer resistências nas Forças Armadas.
Colabora ainda com a comissão o professor do Instituto de Matemática e Estatística (IME) da Universidade de São Paulo, Roberto Marcondes Cesar Junior, que desenvolveu um programa capaz de pesquisar em poucos segundos 20 mil arquivos sobre a ditadura militar.