Uma das principais polêmicas do acórdão que descreveu o julgamento do mensalão foram os diálogos truncados em que a fala de uma das partes desapareceu do relatório final. Quem viu pela tevê os ânimos exaltados dos ministros dificilmente reconhece no texto publicado o relato fiel do que ocorreu ao longo daqueles mais de quatro meses. Com a supressão de trechos ditos no plenário, o documento transformou-se, na definição da defesa de Delúbio Soares, em uma ;colcha de retalhos;, em que falta lógica para ligar os pedaços. Mas a mesma medida, de supressão de trechos de debates mais acirrados, é usada no Congresso Nacional habitualmente quando a temperatura nos plenários passa da conta. Palavrões, xingamentos e brigas costumam ser retirados das notas taquigráficas em nome ;da ordem, do respeito e da austeridade das sessões;. Mas as imagens continuam mostrando que nem tudo o que um parlamentar diz fica escrito nos anais.
Um dos casos mais recentes de supressão de trechos de debates das notas da Câmara acabou em investigação na Corregedoria da Casa. Em fevereiro, na exposição sobre os 10 anos de governo do PT, instalada no corredor que liga a ala das comissões ao Salão Verde, o DEM tentou incluir um painel com referência ao ano do mensalão, mas o material foi retirado pelos petistas. O entrevero chegou ao plenário, com ânimos à flor da pele. Quando Onyx Lorenzoni (DEM-RS) tentava relatar o episódio, Devanir Ribeiro (PT-SP) tirou o microfone da mão dele e o chamou de ;canalha;. Ao sair, ainda deu um forte tapa no ombro do parlamentar gaúcho. O petista precisou ser retirado do local por colegas. A cena foi transmitida ao vivo pela TV Câmara. Na versão transcrita da sessão, porém, é quase impossível perceber a tensão do dia. Na fala de Ribeiro, ficou registrado nos anais apenas ;esse é um (expressão retirada por determinação da Presidência);. Ainda assim, com o vídeo em mãos, Lorenzoni entrou com representação contra o petista na Corregedoria por quebra de decoro parlamentar. O caso está sob investigação sigilosa.