O cumprimento público durante uma solenidade na Bahia, ontem de manhã, deve ter sido o último gesto de afago da presidente Dilma Rousseff para o ministro das Cidades, Mário Negromonte (PP-BA). Horas depois, mais um aliado dele foi exonerado, o assessor parlamentar do ministério João Ubaldo Dantas. Na semana passada, o chefe de gabinete da pasta, Cássio Ramos Peixoto, também havia sido demitido. Desde o início do mês, o isolamento de Negromonte ficou cada vez mais evidente com o fato de o ministro não ter sido chamado para reuniões importantes no Planalto, com pertinência à pasta de Cidades, como a preparatória para grandes eventos como a Copa do Mundo e as Olimpíadas de 2016. Esvaziado, ele pode entregar o cargo a qualquer momento, atendendo a um desejo do governo e evitando mais desgastes para a presidente e para o próprio partido.
Contra Negromonte pesam denúncias de tráfico de influência, fraude de documentos e até pagamento de propina a correligionários. Ontem, Dilma, o governador da Bahia, Jaques Wagner, e Negromonte estiveram juntos durante a cerimônia que marcou o início das obras de urbanização e revitalização do Rio Camaçari, na cidade homônima. Apesar da distância entre os dois ao longo do evento, a presidente citou o ministro em seu discurso: ;Queria cumprimentar os ministros que me acompanham e vou começar cumprimentando o ministro Mário Negromonte, que no meu governo tem sido responsável pela política de urbanização de favelas, habitação, saneamento e proteção de encostas;.
A atitude da presidente de prestigiar Negromonte está sendo vista como um atalho para que ele tenha uma saída honrosa do governo. Parte dos próprios correligionários do ministro tratam a queda como uma questão de tempo. ;Quem decide se demite e quando demite é a presidente, mas, do jeito que está, é ruim para o partido, para o governo, para todo mundo. A situação atual é constrangedora;, afirmou o deputado Jerônimo Goergen (PP-RS).
Aliados distantes
Mesmo os aliados mais próximos de Negromonte, como Jaques Wagner, não o defendem mais publicamente. ;Quando Negromonte foi para o ministério, deixei claro que essa era uma indicação do PP. Foi elogiada por mim porque cada baiano que ocupe um papel é importante;, esquivou-se o governador, ontem.
Em novembro, porém, o posicionamento de Wagner era outro. Diante das acusações contra Negromonte, ele foi enfático ao dizer que tais suspeitas eram ridículas e vindas de pessoas que sentiam ;muito ciúme da Bahia;.