O PT não vê, pelo menos nesse momento, o caminho para uma aliança com o PSD nas eleições municipais de São Paulo. O partido trata como mera especulação a proposta feita pelo prefeito Gilberto Kassab de uma possível chapa tendo o petista Fernando Haddad como candidato a prefeito e um nome do PSD como vice. A oferta teria sido feita na semana passada, durante um encontro de Kassab com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. ;O PT não pode alterar seu planejamento eleitoral com base em especulações;, disse o presidente estadual do PT, deputado Edinho Silva, sem, contudo, descartar a possibilidade.
Edinho lembrou que, em diversos estados, existem perspectivas de alianças formais entre as duas legendas. Mas, em São Paulo, o cenário torna-se um pouco mais complicado. ;Até o momento, todas as notícias envolvendo o PSD de São Paulo mostram a perspectiva de uma candidatura própria ou, no máximo, de uma aliança com o PSDB de José Serra;, destacou o presidente estadual do PT.
No entanto, isso não representaria um empecilho caso o PSD demonstre, de fato, disposição para uma conversa. ;O PT é um partido democrático e não podemos recusar, de antemão, nenhuma conversa com qualquer legenda que queira nos procurar;, completou Edinho, acrescentando que, até o momento, nem o ex-presidente Lula nem emissários de Kassab enviaram qualquer sinal político para a abertura de um diálogo.
No círculo mais próximo do ministro Haddad, a avaliação é de que o PSD está querendo usar o PT para passar um recado ao PSDB. Segundo um interlocutor do titular da Educação, o gesto dado por Kassab na semana passada serviria para ;mostrar aos tucanos que, se eles demorarem muito em consolidar a aliança, o PSD teria autonomia para procurar outros atores políticos na capital paulista;. Esse aliado também disse que seria muito difícil explicar para a militância petista uma possível parceria com o PSD em São Paulo, já que Kassab sempre esteve ligado ao DEM e ao tucano José Serra no estado. ;Estamos buscando alianças com partidos mais próximos de nosso campo político;, completou um articulador do PT.
O líder do PSD na Câmara, Guilherme Campos (SP), considerado um dos políticos mais próximos de Kassab na estrutura partidária, não confirma ; tampouco desmente ; a possibilidade de conversar com o PT. ;Pela deliberação do nosso Congresso Nacional, não existem vetos a negociações ou alianças com nenhuma legenda. Mas tudo isso ainda está em fase de construção. Não há, até o momento, qualquer tipo de definição sobre os nossos parceiros em outubro;, comentou.
Complicação
A situação do PSD em São Paulo não é fácil. O partido, nascido da articulação pessoal do prefeito da capital, Gilberto Kassab, inicia 2012 sem um nome de fôlego para disputar a prefeitura paulistana. O candidato considerado mais forte no partido é o atual vice-governador, Guilherme Afif Domingos. Mas nas últimas três pesquisas de intenção de votos realizadas por diversos institutos, Afif não passou dos 3%. Empresário conhecido em São Paulo, Afif já avisou ao partido que não se lançará em uma ;aventura; para disputar uma eleição sem a mínima chance de êxito.
Além de patinar na intenção de votos, o PSD também tem contra si a incerteza se contará com tempo de televisão razoável para o pleito de outubro. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ainda não decidiu a questão, embora análises de consultores do próprio tribunal deem ganho de causa ao partido, acrescentando que o PSD teria direito também ao Fundo Partidário.
O PSD ainda contaria com uma carta na manga: o ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Ele foi uma das principais estrelas do lançamento, em dezembro, da fundação Espaço Democrático, destinada ao estudo e ao debate de grandes questões do país. Durante o evento, Meirelles expôs os avanços econômicos nos últimos oito anos e as perspectivas de futuro para o Brasil. ;Ele ainda não desencarnou do governo Lula;, brincou um dirigente partidário, que acrescentou, no entanto, algo mais grave: ;Meirelles também ainda não demonstrou apetite para ser candidato;.
Lula trabalha após sessão de radioterapia
Depois de descansar no fim de semana, o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva passou ontem pela quarta sessão de radioterapia, no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. E, após o procedimento, trabalhou por quatro horas em seu escritório na capital paulistana. O tratamento radioativo, que deve se estender até perto do carnaval, é a última etapa do combate ao câncer na laringe, diagnosticado em outubro. Amanhã está prevista uma nova sessão de quimioterapia complementar, prática que deve ser adotada semanalmente até o fim da radioterapia. Ontem, após o tratamento, o ex-presidente recebeu o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) e o presidente da Central Única dos Trabalhadores, Artur Henrique ; na semana passada, Lula também foi visitado por políticos no hospital. Na quarta, primeiro dia do tratamento radioterápico, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, esteve no Sírio-Libanês. No dia seguinte, foi a vez do ministro da Educação e pré-candidato do PT na eleição municipal paulistana, Fernando Haddad. Na sexta, Lula recebeu o deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP).