Depois de passar a primeira semana de 2012 sob intenso bombardeio de denúncias que incluem o uso político de recursos públicos e o favorecimento a familiares, o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, se encontra hoje pela primeira vez com a presidente Dilma Rousseff para explicar por que, em um ano de calamidades naturais como foi 2011, destinou 90% dos recursos da pasta para seu estado, Pernambuco.
A conversa com Dilma, que teve de antecipar o fim de suas férias por conta da crise política em torno do ministro, vai ocorrer no mesmo dia em que a oposição promete fazer mais barulho contra Fernando Bezerra. O líder do DEM no Senado, Demóstenes Torres (GO), anunciou ontem que vai pedir à Procuradoria-Geral da República um pedido de abertura de inquérito civil público contra Fernando Bezerra. ;Ele não só favoreceu seu estado em detrimento de outras regiões atingidas por enchentes como desobedeceu a um decreto presidencial e a uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) contra práticas de nepotismo dentro do governo federal;, diz Torres. Clementino de Souza Coelho, irmão de Fernando Bezerra, é presidente interino da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf), estatal ligada ao Ministério da Integração Nacional.
Bezerra participará de reunião na manhã de hoje acompanhado por mais quatro ministros, para apresentar um balanço das ações do governo para combater os estragos provocados pelas enchentes que atingem a Região Sudeste do país.
Uma prévia da conversa ocorreu ontem à noite, em uma reunião comandada pela ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann. Incumbida pela presidente da tarefa de tomar as rédeas das ações do governo federal no socorro às regiões atingidas pelas cheias, em uma espécie de ;intervenção; sobre a Integração Nacional, Gleisi submeterá a Dilma propostas sobre como o governo deve agir em Minas Gerais, no Espírito Santo e no Rio de Janeiro, incluindo o reforço dos postos avançados da Defesa Civil nesses estados.
Bezerra ainda terá de esclarecer os motivos pelos quais seu filho, o deputado Fernando Coelho (PSB-PE), é o campeão entre seus colegas da Câmara na liberação de emendas parlamentares pelo ministério, no ano passado. E como tentou transformar o ministério que comanda em território de seu clã, ao manter por quase um ano o irmão, Clementino Coelho, como presidente Codevasf, e indicar o tio Osvaldo de Souza Coelho para o cargo de conselheiro do Conselho Nacional de Irrigação.
Congresso
No momento, o ministro pode contar a seu favor com o trabalho de blindagem feito pelo Palácio do Planalto. Mais do que simplesmente proteger Fernando Bezerra até o anúncio de uma reforma ministerial propriamente dita, a movimentação do governo visa evitar o confronto direto com o PSB do governador pernambucano Eduardo Campos, companheiro de legenda de Bezerra.
Dentro do Planalto, a hipótese do afastamento imediato do ministro pernambucano é vista como combustível de um indesejado embate com o PSB, no momento em que a legenda tenta se cacifar como parceira preferencial para sucessão presidencial. Um atrito com a sigla poderia jogar a sigla para fora da base aliada e, em consequência, nos braços do
PSDB, que tem cortejado Eduardo Campos de olho nas eleições de 2014. Uma eventual disputa entre PSB e PT pelo controle da Integração Nacional também traria problemas para o governo no balanço de forças do Congresso. Dono de uma bancada de 29 deputados e quatro senadores e parceiro informal do independente PSD, um PSB em retirada da base seria capaz de fragilizar a maioria do governo no Congresso.
Por conta desse cenário, a bancada de oposição no Congresso vê poucas chances de um depoimento de Fernando Bezerra ao Senado, durante o período de recesso parlamentar, vir a se concretizar. A decisão de convocar a Comissão Representativa em meio ao recesso cabe ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). ;É muito difícil imaginar o Sarney promovendo uma reunião dessa natureza, para ouvir o ministro;, diz o líder do PSDB na Câmara, Duarte Nogueira (PR).
Integrante da Comissão Representativa, o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), diz não ver necessidade de Fernando Bezerra depor ao Congresso, neste momento. ;As explicações que ele devia já foram dadas, e de forma satisfatória. O barulho que estão fazendo em torno do caso se dá mais por uma questão política, não há nenhum registro de corrupção na pasta;, afirma Costa.
Colaborou Paula Filizola