Dilma Rousseff completa amanhã um ano como presidente da República. Nos últimos 12 meses, afastou sete ministros, enfrentou uma crise econômica internacional, encarou protestos e conseguiu aprovar os principais projetos no Congresso. O fim de 2011 e a chegada de 2012 marcam também o início de uma nova etapa na vida de duas crianças: Maria Vitória Santana e Lucas Henrique da Silva.
Os dois bebês viveram em 2011 o primeiro ano de suas vidas, o mesmo período em que Dilma estreava na presidência. Parte dos programas e das conquistas da presidente chegaram aos lares das crianças, mas o desemprego, a falta de saneamento básico e o acesso a bens de consumo, como geladeira e computadores, ainda são problemas que as famílias dos dois enfrentam. Mas já conseguem perceber melhorias na área da saúde e usufruem do benefício do Bolsa Família, programa iniciado no governo Lula, mas que recebeu reforços em 2011.
Em 2012, Dilma terá desafios, como o Fundo Previdenciário para Servidores Públicos e o Código Florestal que serão apreciados pelo Congresso e exigirão jogo de cintura para negociar com os parlamentares a aprovação nos moldes que o governo quer. Também é esperada, para o início do ano, uma reforma ministerial que consiga apagar os danos deixados pela faxina feita na Esplanada. Para Claudineia Rodrigues, mãe de Maria Vitória, será também um ano cheio de desafios. ;Nós mulheres somos guerreiras, somos mais fortes. Se decidimos realizar alguma coisa, não desistimos. Eu sei que vou tirar de letra. E espero que a Dilma também;, torce.
Saúde em novo patamar
Enquanto Dilma Rousseff vivia os últimos momentos de ansiedade para a posse como presidente, em 31 de dezembro de 2010, a revendedora Luciana Jesus da Silva, aos 19 anos, se preparava para assumir o papel de mãe. A jovem fez todo o pré-natal em um posto de saúde em Samambaia, perto de onde mora, mas não queria ter seu filho na cidade. Em 2007, a irmã morreu devido à espera para dar à luz. Ela chegou ao hospital às 4h e só foi atendida 15 horas depois. Morreu dois dias depois devido a complicações no pós-parto.
Há um ano, Luciana pegou um ônibus e seguiu com a mãe, Leonice de Jesus, ao Hospital Regional de Taguatinga. Mas não havia vaga. Voltou para Samambaia, relutante, mas se impressionou com a melhora no atendimento. Lucas nasceu às 23h48 de 31 dezembro do ano passado. Luciana observou a melhoria também ao longo do ano, todas as vezes em que precisou levar Lucas ao posto de saúde, mantido com verbas do Fundo Constitucional do Distrito Federal. O Rede Cegonha, programa que destinou R$ 9,4 bilhões para a construção de maternidades e a melhoria no atendimento para a mãe e para a criança, foi um dos primeiros lançados por Dilma, em março. ;É bom ver que a presidente está cuidando da saúde de quem é mais pobre. Minha irmã era muito nova para morrer.;
Mas outras medidas do governo ainda não chegaram ao lar de Luciana. A redução no IPI para geladeiras, fogões e lavadoras, anunciada para incentivar o consumo e escapar dos efeitos da crise econômica na Europa, não foi suficiente para que a família conseguisse trocar os eletrodomésticos. ;Essa minha geladeira aqui é tão velha que eu nem lembro quando comprei;, diz a avó de Lucas, Leonice, com quem Luciana mora. Os avós da criança estão desempregados, vivem apenas de bicos, e a mãe conseguiu o primeiro emprego só em dezembro.
Os móveis novos na casa são da irmã de Luciana, Mônica, que não perdoou um deslize do marido e voltou para a casa dos pais. Em 2011, Dilma também não se mostrou complacente com os ministros e perdeu sete com denúncias de corrupção ou por falarem demais.
Eleitora de Dilma, Luciana diz que votou na presidente por causa de uma promessa de campanha: a construção de 6 mil creches no país. Também não viu mudanças, nem depois do anúncio em setembro da construção de 4,9 mil unidades. Agora que está empregada, precisa pagar R$ 200 para uma vizinha cuidar do filho e outras 20 crianças.
Sonho da casa própria
Claudineia sabia do momento histórico que vivia no fim do ano passado. Grávida de nove meses, não assistiu à posse de Dilma porque a televisão de casa não estava funcionando, mas se emocionou com o fato de ter uma mulher no Planalto. Decidiu, então, que a filha iria se chamar Maria Vitória pelo tamanho da conquista das mulheres no país. ;Achei maravilhoso. Estávamos precisando de uma presidente mulher, de mulheres conquistando cada vez mais espaço. É tanto que o nome dela é Vitória. Vitória das mulheres;, conta a mãe da menina, que nasceu em 10 de janeiro no Hospital do Regional do Gama.
Sozinha, Claudineia cria Vitória e mais duas filhas em uma casinha de um cômodo de 16 metros quadrados, alugado em um lote com outra casa. A pia serve como despensa porque da torneira não desce água. Tratamento de esgoto também não há. As obras de saneamento anunciadas por Dilma dentro da segunda etapa do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2) não chegaram à rua onde mora, em São Sebastião.
Claudineia não lembra quando foi a última vez em que viajou e agora nem pode pensar nisso, porque começou em um novo emprego de empregada doméstica, sem carteira assinada, há três meses. Já Dilma, em 2011, teve um ano intenso de viagens. Esteve na Bulgária, Bélgica, Grécia, Turquia, China e países da África. A única de que Claudineia se lembra, entretanto, foi a estreia da presidente na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, em setembro. ;Foi emocionante ver a Dilma respeitada pelos presidentes de todos os países;, relembra.
Para 2012, Claudineia espera que Dilma amplie o Minha Casa, Minha Vida, porque, mesmo com o orçamento apertado, diz que a única coisa que falta para que possa dar uma boa vida aos filhos é a segurança de uma casa própria. ;Quero que ela tenha a certeza de um lar para morar. O restante sou eu que devo dar: carinho e educação;, afirma. Em junho, a presidente anunciou a segunda fase do programa, para financiar a construção de 2 milhões de moradias. (JB)