A Operação Perfídia da Polícia Federal prendeu na manhã de ontem a servidora do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) Márcia de Fátima Pereira e Silva Vieira, acusada de desviar pelo menos R$ 5,5 milhões de depósitos judiciais. Também foram presos a mãe, o marido e um irmão da funcionária. A Polícia Federal ainda investiga a participação de outras 13 pessoas no esquema. Dois carros de luxo, três caminhões, eletrodomésticos e joias também foram apreendidos.
O inquérito da PF foi instalado em 9 de dezembro, depois que o Correio revelou o golpe. Márcia foi presa pela manhã com o marido na mansão em que morava no Park Way enquanto dormia. O imóvel está avaliado em R$ 2,7 milhões. A mãe e o irmão da servidora foram presos na fazenda que a família possui na Cidade Ocidental. Segundo a PF, Márcia confessou a culpa e disse ser a comandante do esquema. Ela e os demais presos podem responder por formação de quadrilha, peculato, lavagem de dinheiro e inserção de dados falsos em sistemas de informática. Somadas, as penas podem chegar a 20 anos de prisão.
A servidora é acusada de comandar um esquema de desvio de depósitos judiciais que beneficiou a ela, familiares e amigos. Só em 2011, o valor roubado é de R$ 5,5 milhões, mas a Polícia Federal acredita que seja muito maior, porque ela possuía autorização para movimentar os depósitos desde 2006. Com ordens judiciais falsas, Márcia ordenava que o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal depositassem os valores em contas que ela indicava. Para evitar suspeitas, a quadrilha mantinha uma quantia separada para pagar indenizações de beneficiários que percebiam irregularidades na movimentação.
O marido da funcionária, também preso, se apresentava como advogado em alguns documentos. Só para ele foram destinados R$ 3 milhões, e em seu nome foram encontrados 10 carros. Ele também investiu parte do dinheiro roubado na criação de uma empresa de terraplanagem.
[SAIBAMAIS]Para Fernanda de Oliveira, a delegada responsável pela investigação, o valor dos bens apreendidos e bloqueados é superior ao que uma servidora como Márcia poderia receber. ;O que ela possuía estava muito acima do padrão de uma servidora pública;, descreve Fernanda. São carros importados, joias e relógios de luxo. Também estavam com os presos 16 celulares, seis televisões ; uma delas de 70 polegadas ;, um monitor de computador e eletrodomésticos ainda na caixa. Foram encontrados ainda comprovantes de pagamentos de prestações de imóveis: uma de R$ 200 mil, outra de R$ 300 mil.
Ressarcimento
Segundo a delegada, estão descartadas por enquanto a participação ou a anuência de outros funcionários do TRT. ;No primeiro momento, avaliamos que ela agiu de forma isolada. Não identificamos nada que possa envolver outras pessoas do TRT;, esclarece. Os bens apreendidos, caso Márcia seja condenada, serão enviados para o tribunal para que ele decida a melhor forma de ressarcir as vítimas. ;O que foi localizado no nome da quadrilha deve ser suficiente para ressarcir os prejudicados;, informou o delegado executivo da Polícia Federal Rodrigo Carneiro. Outras 13 pessoas, entre familiares e amigos de Márcia, estão sendo investigadas, mas, segundo Fernanda, o número de envolvidos pode passar de 20.
Os quatro envolvidos foram presos temporariamente por cinco dias, prorrogáveis por mais cinco para evitar que obstruíssem as investigações. A polícia adiantou as diligências para conseguir os mandados antes do período de recesso judiciário, que começou ontem. Caso julgue necessário, a PF ainda pode pedir a prisão preventiva, por 30 dias.
A Operação Perfídia contou com a participação do Ministério Público Federal e da Corregedoria do TRT 10; Região. Foram executados, além dos mandados de prisão temporária e de busca e apreensão, cerca de 50 mandados de bloqueio e sequestro de bens, inclusive de supostos laranjas.