Disposta a manter a unidade de sua base de sustentação no Congresso após as eleições municipais de 2012 e ciente de que a disputa pode trazer de volta a Brasília uma legião de insatisfeitos considerando-se abandonados pelo Planalto, a presidente Dilma Rousseff avisou ontem que, onde houver bola dividida na base de apoio ao governo, não vai subir em palanques eleitorais. ;Estou cada vez mais inclinada a não participar de eleições quando a minha base estiver envolvida. Eu tenho de ter responsabilidade com o país. Eu posso ter até aqui dentro (de mim) minhas convicções, mas aqui dentro é uma coisa. Como presidenta, não;, disse em Porto Alegre.
A resposta foi dada após Dilma ter sido questionada sobre qual seu candidato preferido nas eleições municipais na capital do Rio Grande do Sul. A regra, contudo, vale para todas as demais cidades onde a base estará rachada (Leia quadro abaixo com as principais disputas). Dilma, considerada por muitos parlamentares como alguém que prefere uma gestão técnica a um comando político do país, mostrou com a declaração que assimilou com perfeição as palavras de seu mentor, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Lula sempre buscou ao máximo a unidade nas disputas municipais e estaduais para evitar o desgaste de ter que subir em mais de um palanque e desagradar possíveis aliados. A noção de que Dilma é uma boa aluna havia sido detectada pelo próprio ex-presidente em 2010, após discurso da então pré-candidata pelo PT na inauguração da nova sede do Sindicato dos Trabalhadores de Processamento de Dados e Tecnologia da Informação do Estado de São Paulo (Sindpd). ;A bichinha está palanqueira. Palanqueira de primeira;, afirmou ele ao presidente da entidade, Antônio Neto, arrancando risadas dos presentes ao evento.
Estratégia
Com o início das articulações partidárias para as eleições de 2012, Dilma tem ouvido de seus aliados que as disputas municipais são fundamentais para que os partidos mostrem suas forças e se cacifem para as eleições de 2014. O PSB, por exemplo, liberou o partido para fazer as coligações que forem mais convenientes para turbinar seu poder político. O PMDB, temendo perder o prestígio no Palácio do Planalto, avisou que lançará candidatos em todas as capitais, inclusive em São Paulo, com o deputado Gabriel Chalita resistindo à aliança em primeiro turno com o petista Fernando Haddad.
A experiência política de Lula conseguia cicatrizar feridas pós-eleitorais com mais facilidade. Dilma começa a ensaiar esses passos e buscará evitar ao máximo gestos que possam provocar ciúmes. E, nos locais onde for possível operar o consenso, agirá intensamente, com Lula, para sacramentar a unidade. Como fez na capital paulista, onde ajudou a convencer a senadora Marta Suplicy a abandonar a disputa, pavimentando o caminho soberano de Fernando Haddad no partido. ;O PT quer unir os diferentes para enfrentar os antagônicos. Os antagônicos, obviamente, somos nós;, disse o tucano José Serra.
Ainda em Porto Alegre, Dilma defendeu o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, ;É estranho que o ministro preste satisfações no Congresso da vida privada, da vida pessoal passada dele. Se ele achar que deve ir, ele pode ir, se ele achar que não deve ir, ele não vá. Agora, sobre assuntos do governo é obrigado a ir;, disse ela.
Aniversário com a família no RS
A presidente Dilma Rousseff comemorará seu aniversário de 64 anos hoje, na companhia da família em Porto Alegre. Durante todo o dia ela não terá agenda oficial. Dilma deve receber a visita da filha, Paula, do neto, Gabriel, de 1 ano, e do ex-marido Carlos Araújo, além de alguns amigos. No ano passado, Dilma também passou o aniversário em Porto Alegre, ainda como presidente eleita. Poucos dias depois, foi diplomada no cargo. A presidente deve retornar a Brasília no final da tarde de hoje. Amanhã, ela recebe pela manhã a ex-presidente do Chile Michelle Bachelet, atual diretora executiva da ONU Mulheres. Bachelet vem à capital participar do encerramento da 3; Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres. A presidente marcou as férias do dia 26 até 10 de janeiro de 2012. A filha e o neto de Dilma virão de Porto Alegre passar o réveillon em Brasília, também na companhia da mãe e da tia de Dilma, que moram com a presidente no Palácio da Alvorada. Depois, o descanso deve ocorrer na Base Naval de Aratu, em Salvador. O local é o mesmo onde o ex-presidente Lula costumava passar as férias. (Júnia Gama)