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Ministro do Trabalho Carlos Lupi pede demissão do cargo após denúncias

Carlos Lupi é o sétimo ministro a deixar o governo de Dilma Rousseff - o sexto por denúncias de corrupção. O dirigente do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) apresentou neste domingo (4/12) o seu pedido de demissão à presidente. Alvejado por uma série de denúncias, Lupi deixa a pasta após a Comissão de Ética da Presidência da República ter recomendado sua demissão. Em seu lugar, deve ficar temporariamente o secretário-executivo da pasta, Paulo Roberto Pinto.

Na nota, divulgada no site da pasta, Lupi disse que sofre perseguição política e pessoal da mídia, sem direito de defesa e provas. Ele ressaltou que a decisão tomada tem como base evitar o contágio de ;forças mais reacionárias e conservadoras contra o trabalhismo; em outros setores do Governo.

Antes dele deixaram o cargo Antonio Palocci (Casa Civil), Alfredo Nascimento (Transportes), Nelson Jobim (Defesa), Pedro Novais (Turismo), Wagner Rossi (Agricultura) e Orlando Silva (Esportes).

Caminho sem volta
A situação de Lupi já estava insustentável desde a quinta-feira (1;/12), quando foi divulgado um relatório da Comissão de Ética da Presidência da República, que considerou que ele havia cometido "inquestionáveis e graves falhas" como gestor. De acordo com o documento apresentado pela conselheira Marília Muricy Machado Pinto, e aprovado pela unanimidade da Comissão, os pronunciamentos públicos feitos por Lupi "não se coadunam com os preceitos éticos estabelecidos para a Alta Administração Federal;.

O relatório recomendava a demissão do ministro e a aplicação de uma advertência - maior punição que a Comissão de Ética pode recomendar. A decisão de divulgar o relatório foi tomada pelo presidente da Comissão, Sepúlveda Pertence, após a decisão da presidente Dilma Rousseff de manter Lupi no cargo e pedir informações sobre a recomendação feita pela Comissão.

O documento listava as irregularidades atribuídas à pasta e ao ministro. Entre elas, a relatora destacou a cobrança de propina por parte de assessores para resolver pendências de organizações não governamentais (ONGs) conveniadas, e a cobrança feita pela Presidência da República sobre as providências em relação a isso três meses antes das reportagens. Outro fator considerado pela relatora foi o acórdão do Tribunal de Contas da União que apontou uma "situação crítica" na prestação de contas das entidades que receberam recursos públicos do ministério.

A comissão também apontou sinais de "indiferença" e "arrogância" nas declarações do ministro. "Atitudes em que se misturam indiferença quanto à gravidade das acusações e certa dose de arrogância ante as possíveis consequência de seus atos", disse a relatora.

Pressão política
Lupi declarou à imprensa que não deixaria o cargo, a não ser que fosse "abatido à bala" e que "iria carregar o caixão de muita gente que queria me enterrar". A relatora destacou que Lupi também disse que duvidava que a presidenta Dilma Rousseff o demitisse.

O arrependimento de Lupi sobre as declarações não convenceram a relatora. "Posteriormente, tentou a retratação, sob o argumento de que não teve a intenção de desafiar a presidenta Dilma Rousseff com suas declarações".

Leia a nota na íntegra, divulgada no site do MTE:
"Tendo em vista a perseguição política e pessoal da mídia que venho sofrendo há dois meses sem direito de defesa e sem provas; levando em conta a divulgação do parecer da Comissão de Ética da Presidência da República ; que também me condenou sumariamente com base neste mesmo noticiário sem me dar direito de defesa -- decidi pedir demissão do cargo que ocupo, em caráter irrevogável.

Faço isto para que o ódio das forças mais reacionárias e conservadoras deste país contra o Trabalhismo não contagie outros setores do Governo.

Foram praticamente cinco anos à frente do Ministério do Trabalho, milhões de empregos gerados, reconhecimento legal das centrais sindicais, qualificação de milhões de trabalhadores e regulamentação do ponto eletrônico para proteger o bom trabalhador e o bom empregador, entre outras realizações.

Saio com a consciência tranquila do dever cumprido, da minha honestidade pessoal e confiante por acreditar que a verdade sempre vence".