Numa tentativa de criar uma agenda positiva, o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, convocou a imprensa na manhã de ontem para falar de um outro assunto: o resultado do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Logo após sentar no centro da mesa da sala do auditório do ministério, Lupi disparou a falar sobre os dados referentes ao último mês de outubro até ser interrompido por jornalistas na plateia: ;Bom-dia, ministro!”
A falta do cumprimento inicial revelava o estado de espírito de Lupi. Ansioso, logo tratou de corrigir a indelicadeza. ;Bom-dia, desculpe. Desculpe porque já entrei vendo algumas situações e, então, não tive a educação de fazer (o cumprimento). Perdão. Em outubro;;, prosseguiu, no mesmo ritmo anterior.
Com o semblante abatido, ao longo de 30 minutos de coletiva, ele adotou um tom sereno e não fez piadas, como costuma agir em encontros com jornalistas no ministério. Além disso, os dados informados não se tratavam de uma notícia positiva. Os números do Caged de outubro são os piores desde 2008, quando o país criou 61.401 vagas. De acordo com dados do ministério, 126.143 mil brasileiros entraram na formalidade no último mês. (Leia mais na página 14)
Durante a coletiva, Lupi também adotou a estratégia de não responder a nenhuma questão sobre as recentes denúncias de irregularidades. ;Eu hoje só falo sobre Caged. Sobre crise, já falei o que tinha de falar ontem e não falo mais, não falo mais;, ressaltou. Diante da insistência dos jornalistas, ele voltou a responder: ;Não vou falar sobre crise, eu tenho que trabalhar;.
Na última quinta-feira, Lupi compareceu em audiência no Senado para falar sobre as imagens que desmentem a versão de que não conhecia o empresário favorecido com contratos milionários com a pasta. Na ocasião, também adotou um comportamento mais contido do que o apresentado na Câmara. No fim da coletiva no ministério, após ser cercado pelos jornalistas, que insistiam em perguntar sobre as denúncias, Lupi repetia que só falaria de Caged.
Apesar da tentativa de criar uma agenda positiva, na análise de integrantes do partido, a iniciativa não será suficiente para livrá-lo de uma possível queda. ;Se o ministro ficar exposto igual a um patinho no Playcenter para tomar tiros, é melhor ele sair;, avaliou o deputado Paulo Rubem Santiago (PDT-PE).