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Em meio a um turbilhão de acusações, Lupi servirá de escudo na Esplanada

Em meio a um turbilhão de acusações de malfeitos nos convênios assinados pelo Ministério do Trabalho, Carlos Lupi servirá como uma espécie de escudo para evitar que uma onda de denuncismo se espalhe pela Esplanada. A pasta está cada vez mais esvaziada

Convencidos de que há uma má vontade da imprensa com o governo federal e ainda uma campanha para colocar uma sombra sobre os programas sociais do Poder Executivo às vésperas do ano de eleições municipais, a presidente Dilma Rousseff e sua equipe decidiram usar as denúncias contra o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, em seu favor. A ordem agora é segurar Lupi enquanto der, de forma a evitar que outros integrantes do primeiro escalão virem alvo. Dentro do Planalto, a frase que mais se ouve é a de que é preciso dar um basta nessa onda que a cada 50 dias derruba um ministro. E a forma de fazê-lo, avaliam os assessores palacianos, é deixar Lupi ficar, ainda que à deriva e a toda hora respondendo a malfeitos.

Na semana passada, enquanto Lupi respondia aos malfeitos na pasta, o Correio publicou reportagens sobre contratos do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) com uma empresa que, embora vencedora do pregão eletrônico ; um dos sistemas mais modernos de licitação, estava em nome de laranjas. Dez dias depois, o Ministério da Educação mandou suspender o contrato e abrir investigação. No Ministério das Cidades, volta e meia surge alguma nuvem sobre a cabeça do ministro Mário Negromonte, que, recentemente, enfrentou fogo amigo dentro do partido, o PP.

Agora, enquanto os outros ministros conduzem os programas do governo, caberá a Lupi dar as respostas sobre os malfeitos no Trabalho. Afinal, julgam os políticos, não sobrou muito o que fazer na pasta. No próprio PDT, há quem avalie em conversas reservadas que o Ministério do Trabalho virou praticamente uma carcaça sem recheio. Lupi não irá mais assinar convênios com ONGs, porque a prática está suspensa. Quanto aos programas de qualificação profissional, o Projovem, na prática, mudou de nome e foi transferido para o Ministério da Educação. Sob as asas de Fernando Haddad, o pré-candidato do PT a prefeito de São Paulo, virou Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) e ganhou um orçamento de R$ 1 bilhão para capacitar 8 milhões de pessoas no país. Enquanto isso, o programa do Ministério do Trabalho ficou com menos de R$ 400 milhões.

Gato por lebre
Hoje, os políticos classificam o Ministério do Trabalho como um simples despachante de carteiras de Trabalho e do seguro-desemprego. No caso das carteiras, o documento ultramoderno que Lupi lançou ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2008 ainda não está acessível a todos os brasileiros. Até hoje, há apenas projetos pilotos em algumas cidades. A avaliação é a de que o ministro vendeu gato por lebre para o ex-presidente.

O azar de Lupi, entretanto, é o Cadastro Nacional de Empregados e Desempregados (Caged) divulgado ontem (leia mais nas páginas 3 e 14). No governo, há quem diga que, se a presidente Dilma Rousseff decidir que o Ministério do Trabalho deverá usar a criatividade em busca de soluções para alavancar a criação de empregos ;- e assim evitar que a crise econômica mundial respingue no Brasil ;, ela deverá buscar um economista para o lugar de Lupi.

Por enquanto, Dilma tem centrado essas ações de geração de empregos em ministérios como o de Desenvolvimento, Indústria e Comércio, onde conta com a atuação do braço direito, Fernando Pimentel. Tem trabalhado ainda lado a lado com o ministro de Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, cada vez mais forte na equipe da presidente. Esses dois ministros, ambos do PT, acompanharam as viagens internacionais e praticamente todos os contatos com empresários estrangeiros que desejam se instalar no país, como o dono da FoxConn, Terry Gou, que comanda a empresa fabricante de componentes para tablets.

Enquato o PDT não se entende...

Carlos Lupi não é mais nem o interlocutor do PDT no Planalto. Também não tem prazos exíguos para apresentar resultados. Enquanto o ministro do Esporte precisava ficar concentrado para cuidar dos assuntos da Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016, o titular do Trabalho pode dedicar o tempo a responder as denúncias que pesam sobre a pasta. E, nesse período, os demais integrantes da equipe de Dilma ficam fora de foco.

Isso tudo pode parecer maluquice aos olhos de alguns. Mas a presidente cansou de, a cada 50 dias, ter que substituir um ministro ;inviabilizado do ponto de vista político; por conta de reportagens em série seja nos jornais, na tevê ou nas revistas de circulação nacional. A ideia, se nada mais grave aparecer até lá, é deixá-lo no cargo até a reforma ministerial prevista para 2012, quando alguns nomes vão deixar o governo para concorrer às eleições municipais. Espera-se que, até lá, o PDT esteja mais pacificado. Afinal, se o partido continuar dividido, vai terminar perdendo a pasta. E talvez seja esse mesmo o objetivo de Dilma.