A decisão de parlamentares do próprio PDT de pedir à Procuradoria-Geral da República (PGR) uma investigação contra o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, bem como a abertura de um processo preliminar pela Comissão de Ética Pública da Presidência, fragilizaram ainda mais a situação de Lupi no governo. O pedetista, alvo de diversas denúncias veiculadas pelo Correio apontando fraudes em convênios de capacitação profissional, convocou para hoje (8/11) uma reunião com as bancadas da Câmara e do Senado para tentar defender-se dos ataques. Pedetistas históricos estão irredutíveis. ;A militância está incomodada em ver o nome do partido envolvido em denúncias de corrupção. Podemos ganhar ou perder eleições ou disputas, mas não queremos ver o partido exposto assim;, reclamou o deputado Miro Teixeira (RJ).
Ao lado do deputado Reguffe (DF) e dos senadores Pedro Taques (MT) e Cristovam Buarque (DF), Miro Teixeira pretende protocolar hoje uma petição para que o Procurador-Geral da República, Roberto Gurgel, peça a abertura de um inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) para apurar as denúncias de irregularidades. O documento terá como base a suposta cobrança de propina de organizações não governamentais para evitar que convênios pendentes sejam suspensos e um relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) apontando a falta de fiscalização em processos que deveriam ser acompanhados de perto pela pasta. As mesmas informações vão basear o processo na Comissão de Ética Pública, onde Lupi terá 10 dias para apresentar sua defesa.
Ontem, Lupi passou o dia tentando demover os companheiros de partido de pedir uma investigação ao Ministério Público. A principal dificuldade é que três dos quatro signatários da petição também defenderam as investigações quando havia suspeitas de irregularidades contra ministros de outras legendas. ;Não estamos prejulgando ninguém, mas todas as denúncias precisam ser investigadas;, defendeu o senador Pedro Taques (MT).
Dos quatro parlamentares, Miro talvez seja o mais próximo do ministro Carlos Lupi. O parlamentar fluminense lembra que as denúncias envolvem também um deputado federal, Weverton Rocha (MA), o que justifica o pedido de investigação no Supremo, já que o parlamentar tem foro privilegiado. ;Não transigimos com esse tipo de coisa;, completou Miro, dizendo que tem sido procurado por militantes tradicionais do partido, que cobram providências.
Embora não esteja diretamente ligada à crise, a união entre o PDT e a Força Sindical ; presidida pelo deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força (SP) ; também incomoda Miro. Desde que o PDT assumiu a pasta do Trabalho, em 2007, a Força tem indicado vários representantes para atuar em diversas secretarias ligadas ao ministério. ;Não apoiamos o loteamento do ministério. Para nós, ministérios pertencem ao contribuinte e não podem ser divididos dessa maneira por integrantes dos partidos;, disse Reguffe.
Carlos Lupi participou ontem normalmente de uma reunião no Palácio do Planalto, com representantes da base aliada, para discutir a prorrogação da Desvinculação das Receitas da União (leia mais na página 12). Em seguida, teve uma conversa reservada de 20 minutos com a presidente Dilma Rousseff. Na saída, a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, foi questionada sobre a situação de Lupi e evitou defendê-lo. ;Nós temos a obrigação de prestar todos os esclarecimentos. [SAIBAMAIS]Os ministros têm sido reiteradas vezes acionados para prestar esclarecimentos e as providências têm sido tomadas;, afirmou Ideli, destacando o decreto assinado pela presidente Dilma no fim de outubro que suspende por 30 dias convênios com ONGs até que todos sejam analisados. Segundo Ideli, a intenção é fazer um ;verdadeiro pente-fino; nesses contratos.
No Planalto, a avaliação é de que a falta de apoio a Lupi dentro do próprio partido pode agravar a situação do ministro. Assessores procurados pelo Correio lembraram que o ministro do Esporte, Orlando Silva, tinha contra si denúncias mais graves, já que havia uma testemunha ; o policial militar João Dias ; que o acusava diretamente. Mas, diferentemente do caso do ministro do Trabalho, Orlando teve o apoio do partido, o PCdoB. ;Ele caiu quando a denúncia foi aceita no STF. Se essa, movida pelo próprio partido de Lupi, também for aceita, a situação dele ficará difícil;, confirmou um aliado da presidente.