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Com doença de Lula, Inca divulga orientações para combate ao câncer de mama

Para fechar o Outubro Rosa, mês dedicado à prevenção do câncer de mama, e no momento em que o país se comove com o tumor na laringe diagnosticado no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Instituto Nacional do Câncer (Inca) divulgou ontem sete recomendações para aumentar a chance de cura de pacientes que enfrentam a doença. As orientações visam a reduzir a mortalidade e dar maior qualidade de vida às mulheres que estão em tratamento.

É o segundo ano no qual o instituto divulga orientações. Em 2010, as recomendações eram mais focadas na prevenção e na detecção precoce da doença. ;Esperamos que, por meio desse amplo debate, essas medidas possam ser incorporadas na atenção às mulheres;, afirmou o diretor-geral do Inca, Luiz Antonio Santini.

De acordo com o presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, Anderson Silvestrini, as orientações com relação ao início do tratamento devem ser sempre observadas. ;O atraso no tratamento leva à maior disseminação da doença. No caso do câncer de mama, há células tumorais circulantes ou micrometástases, principalmente nos tumores mais invasivos, que podem se instalar em outras partes e diminuir as chances de cura;, explica.

Outra recomendação do Inca diz respeito à interdisciplinariedade da equipe. ;Vemos que, quando há um time completo no atendimento desses pacientes, melhora a qualidade do tratamento;, diz Silvestrini.

Na avaliação do oncologista, profissionais como enfermeiros especializados, psicólogos, nutricionistas e cirurgiões plásticos, por exemplo, são fundamentais para aumentar as chances de cura e dar mais qualidade de vida ao paciente.

O combate à doença é também uma das prioridades do Ministério da Saúde. Até 2014, a pasta pretende investir R$ 4,5 bilhões em prevenção, diagnóstico e tratamento para os cânceres de mama e de colo do útero. Apenas o câncer de mama mata 12 mil mulheres por ano. A cada ano, segundo o Inca, o país registra 49,2 mil novos casos.

Os sete passos

; Iniciar o tratamento o mais rápido, não ultrapassando o prazo de 3 meses.

; A químio ou a hormonioterapia devem ser iniciadas no máximo em 60 dias e o de radioterapia, em 120 dias.

; O diagnóstico deve ser complementado com a avaliação do receptor hormonal.

; Acompanhamento por uma equipe multidisciplinar especializada.

; Receber cuidados em um ambiente que respeite sua autonomia e dignidade.

; Todo hospital deve ter o Registro de Câncer em atividade.

; Toda mulher com câncer de mama tem direito aos cuidados paliativos para o adequado controle dos sintomas e os suportes social, espiritual e psicológico.

A experiência de quem venceu


O câncer do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é de alta incidência no país. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), cerca de 25% dos tumores na cabeça e no pescoço são na laringe, o que representa 2% de todas as ocorrências no Brasil. Apesar de apresentar bons resultados com a químio e a radioterapia, é uma doença difícil de lidar por atingir uma área delicada e responsável por funções importantes, como a fala e a deglutição. Pacientes que venceram a doença contaram ao Correio que o tratamento é difícil, mas superável.

O aposentado Rey de Paiva, 76 anos, começou a desconfiar de que havia alguma coisa errada da mesma forma que o Lula. ;De repente, comecei a sentir uma rouquidão. Como nunca tive nada, não estava doente, não sentia dor na garganta, fui ao médico ver o que era;, lembra. Após a biópsia, foi constatado o tumor maligno. ;Quando recebi o diagnóstico, fiquei assustado, mas aceitei e decidi enfrentar.; ;Perdi 10 quilos e tudo o que comia tinha que ser pastoso. Não foi fácil, mas é possível enfrentar sem desespero;, conta. De janeiro a março, foram três ciclos de quimioterapia, mais 28 sessões de radioterapia e hoje Rey, que não teve queda de cabelo, comemora a cura.

O aposentado Josafar Osório, 62 anos, recebeu, na tarde de ontem, a notícia de que tinha vencido o câncer. O aposentado, que foi locutor de rádio, não queria perder a fala. Passou por três etapas de quimioterapia e 35 sessões de radioterapia entre junho do ano passado e outubro deste ano. Durante esse tempo, sentiu muito enjoo e dificuldade para engolir. ;Teve dias que eu cheguei a chorar de fome, mas não conseguia comer;, diz. Hoje, feliz com a recuperação, Josafar não se incomoda nem com a rouquidão, que permaneceu ao fim do tratamento. ;Não importa. O que importa é que estou curado;, comemora.

Diagnóstico
As experiências de Rey e de Josafar são frequentes na família do ex-presidente. Um histórico de diagnósticos de câncer cerca os parentes de Lula, que, desde cedo, acostumou-se a lidar com a doença. Segundo a biógrafa do ex-presidente, Denise Paraná, autora do livro Lula, o filho do Brasil, a família Silva já encara a doença há pelo menos duas gerações. ;A dona Lindu teve câncer no útero e metástase. Os tios de Lula também enfrentaram tumores;, conta Denise.

Jaime, irmão de Lula, também teve câncer na laringe, mas ainda não se sabe se do mesmo tipo do que atinge o ex-presidente. Lulinha, filho do pai de Lula, seu Aristides, morreu vítima de um câncer no cérebro. Outra irmã, Maria, teve um tumor no seio e se curou. Segundo Denise, a irmã mais velha, Marinete, descobriu a doença num estágio muito avançado. ;Fez todos os tratamentos possíveis, mas era muito agressivo;, explicou a biógrafa, que aposta no sucesso do tratamento de Lula: ;Ele passou no grande vestibular da vida do sertanejo, que é não morrer antes dos 3 anos. Vai tirar essa de letra;. (JB e GA)

Tratamento no SUS

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, afirmou ontem que o ex-presidente Lula poderia fazer pelo Sistema Único de Saúde (SUS) o mesmo tratamento a que está sendo submetido no Hospital Sírio Libânes. Os procedimentos e os medicamentos que Lula está recebendo são oferecidos pela rede pública, segundo Padilha. A afirmação foi uma resposta aos comentários que circulam desde sábado nas redes sociais, sugerindo que o ex-presidente se trate em alguma instituição pública ; ontem, a atriz Luana Piovani, por meio de seu Twitter, foi uma das internautas que sugeriram a Lula o tratamento pelo SUS.

;Esse tratamento é totalmente oferecido pelo SUS. Esses medicamentos que o presidente Lula vai receber, também. O SUS tem 270 centros que fazem tratamentos cirúrgicos e de rádio e quimioterapia;, disse Padilha, no Palácio do Planalto, após a posse de Aldo Rebelo no Ministério do Esporte (leia mais na página 5). No fim de semana, o ministro já havia respondido a usuários da internet por meio de sua própria conta no Twitter. Ontem, Padilha lembrou que os médicos que tratam do ex-presidente também atuam no SUS. Roberto Kalil Filho trabalha no Instituto do Coração e Artur Katz, no Hospital do Câncer.

Padilha disse ainda esperar que a forma como Lula está assumindo a doença sirva para diminuir o estigma em relação a esse tipo de tumor. ;Pode ser uma grande oportunidade para superar o preconceito contra o câncer. Às vezes, as pessoas têm até medo de falar o nome. Vamos falar que é câncer, que tem cura;, sugeriu o ministro, que defendeu a gestão do ministério no combate à enfermidade. Citando números ; segundo o ministro, seriam 2,5 milhões de procedimentos mensais para tratamento de câncer ;, Padilha admitiu que sua pasta ainda precisa avançar, especialmente na prevenção e no diagnóstico precoce.

Na noite de ontem, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso saiu em defesa do colega. ;Não endosso isso;, disse, ao criticar as manifestações contra Lula na internet. (GA)