Jornal Correio Braziliense

Politica

Substituição de ministro é praticamente sacramentada com inquérito no STF


A substituição de Orlando Silva do Ministério do Esporte foi praticamente sacramentada ontem (25/10). Após o anúncio de abertura de inquérito contra o ministro no Supremo Tribunal Federal, o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, chamou o presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo, para uma conversa no Palácio do Planalto. Analisaram o agravamento do quadro político e discutiram a relação do partido com o governo. Para não parecer perseguição ou má vontade com uma aliado histórico, os comunistas poderão procurar um quadro filiado à legenda para substituir Orlando. Nome que, por enquanto, ainda não existe.

A avaliação no núcleo de poder palaciano é de que a decisão da ministra Cármem Lúcia de abrir o inquérito inviabiliza a permanência de Orlando Silva na pasta. Ela aceitou o pedido de investigação feito pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, no mesmo dia em que o ministro participava de uma audiência na Câmara para tratar da Lei Geral da Copa. O gesto do STF anulava a tentativa do governo de criar ;uma agenda positiva para Orlando;.

A Advocacia-Geral da União ainda tentou segurar-se no argumento jurídico de que um pedido de diligências expressava apenas o desejo de obter mais informações para formar uma opinião sobre o caso. A entrevista de Cármen Lúcia dizendo que isso era uma filigrana e que, na prática, o inquérito estava sendo aberto, foi mais uma derrota política para Orlando. ;Se ela quisesse, poderia ter esperado mais tempo para responder o procurador. Não quis;, lamentou um aliado da presidente.

Opções
O cenário deteriorado também alterou o ânimo do PCdoB. Na semana passada, o partido cerrara fileiras ao lado de Orlando, no sentido do ;tudo ou nada;. O movimento sinalizava também uma insatisfação com o PT, que, nos bastidores, pressionava para conseguir a pasta, que administrará um orçamento de R$ 25 bilhões para organizar a Copa do Mundo de 2014.

Ontem, o quadro mudou. A audiência na Câmara para tratar da Lei Geral da Copa do Mundo teve um efeito inverso ao que era esperado pelo partido. A oposição não deu trégua e partiu para cima do ministro, tratando exclusivamente das denúncias de irregularidades. O apoio a Orlando não é mais tão monolítico e os comunistas começam a movimentar-se para tentar apresentar alternativas para a presidente Dilma Rousseff.

Articuladores do partido reuniram-se, na noite de ontem, para buscar soluções. Não é fácil. No ano passado, durante o governo de transição, a presidente Dilma Rousseff pensou em trocar Orlando Silva pela deputada Luciana Santos (PCdoB-PE), mas, hoje, muitos consideram perigoso nomear alguém que não está inteirada das negociações da Lei Geral da Copa, a principal encrenca na relação com a Fifa e a CBF.

A outra opção ; a deputada Manuela D;Ávila (PCdoB-RS) ; enfrenta duas dificuldades. Além de ser pré-candidata à prefeitura de Porto Alegre, ela desgastou-se com Dilma ao incluir no Estatuto da Juventude, uma lei federal, a concessão da meia-entrada para jovens. E o que é pior, estendeu o benefício até a idade-limite de 29 anos, azedando ainda mais as relações do governo com os organizadores privados da Copa de 2014.

[SAIBAMAIS]O temor dos comunistas, no entanto, é que fiquem sem nada após a solução da crise. Eles sabem que Dilma está insatisfeita com a atuação do partido no ministério, aparelhado pela legenda e repleto de convênios irregulares com ONGs. Pessoas próximas a Dilma chegaram a sugerir o nome de Pelé, já nomeado pela presidente como o ;embaixador do Brasil na Copa;. Mas Pelé recusou a proposta antes mesmo de uma sondagem.

;Inquérito não é condenação;
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse ontem que o inquérito aberto no Supremo Tribunal Federal (STF) para apurar supostas irregularidades no Ministério do Esporte ;não é uma sentença condenatória; envolvendo o atual titular da pasta, Orlando Silva. ;É uma decisão que determina a realização de uma investigação criminal. Logo, não se pode prejulgar nada, nem fazer nenhum juízo de valor definitivo em relação aos fatos que passarão a ser apurados;, disse Cardozo.