A união entre Brasil e Turquia, defendida pela presidente Dilma Rousseff, vai além do discurso. A equipe econômica brasileira abandonou o modelo conservador de gestão, principalmente do Banco Central, para se espelhar nos turcos. Segundo técnicos do governo, o Palácio do Planalto está disposto a aceitar um pouco mais de inflação em troca de crescimento, assim como fez a Turquia em 2008, no auge da crise financeira internacional. O encontro com o presidente Abdullah Gul servirá, entre outras coisas, para aprender como superar o ceticismo e as críticas do mercado no percurso que levará a uma menor taxa básica de juros (Selic).
Por isso, quando a presidente falou em reformas estruturais nas instituições financeiras e econômicas do planeta, não deixou de fora o Brasil, que, sem alarde, vem transformando sua política monetária. O objetivo principal é atingir o status que a Turquia alcançou, não de tigre eurasiano, mas de oásis de crescimento em meio às turbulências que têm abatido, sobretudo, Europa e Estados Unidos.
A receita que o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, terá de seguir para fazer igual aos turcos é amarga aos brasileiros que viveram os anos da hiperinflação, quando nas décadas de 1980 e 1990 os preços chegavam a disparar 100% em um único mês. Passados 17 anos do nascimento do Plano Real, que trouxe a estabilização da economia, tanto governo quanto parte dos especialistas parecem estar convencidos de que o Brasil pode superar o trauma da carestia desenfreada e avançar na sua política monetária. O desafio, porém, é convencer a parte do mercado que acredita que o BC perdeu a mão e agora pede a cabeça de Tombini.