A escolha do deputado Gabriel Chalita (PMDB-SP) como candidato a prefeito de São Paulo atende a um jogo de interesses mútuos entre o político e o partido. Para o PMDB, é a chance de tentar retomar algum prestígio na principal cidade do país e afastar a imagem, generalizada no plano nacional, de que se valoriza apenas para barganhar cargos nas gestões vencedoras. Para Chalita, é a oportunidade de mostrar que tem consistência política sem o apoio direto de tucanos como o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin ; a quem tem a imagem umbilicalmente vinculada ; , e votos além dos Jardins e Heliópolis, regiões situadas entre as mais ricas da capital paulistana.
Para concretizar essa conjunção, partido e pré-candidato ensaiaram uma coreografia afinada. Chalita elegeu-se para o primeiro mandato de deputado federal pelo PSB ; depois de abandonar o PSDB ;, mas com menos de seis meses de mandato já estava assinando filiação no partido do vice-presidente Michel Temer. Foi o próprio Temer quem negociou a aproximação, disposto a comandar efetivamente o controle do partido no estado, após a morte de Orestes Quércia. Em 2006, o vice-presidente só conseguiu reeleger-se deputado federal graças ao coeficiente eleitoral.
Temer sabe que a estratégia é arriscada. O PT quer retomar a prefeitura de São Paulo a qualquer preço, para romper a hegemonia do PSDB na capital e no estado. O vice-presidente prometeu a Chalita que, caso viesse, não teria concorrentes na disputa interna. Acertou com o economista Delfim Netto a tarefa de escrever o programa econômico. Mas cobrou uma promessa do neopemedebista: ;Se você quiser entrar no PMDB, que seja para ser candidato;. Petistas paulistas estão certos de que Chalita esticará a corda dessa candidatura ao máximo, torcendo para que o PT escolha Fernando Haddad como candidato à prefeitura, o que abriria espaço para o neo-peemedebista ser ministro da Educação a partir de 2012. ;Presidente, essa hipótese está descartada;, teria jurado ele. Temer, pelo menos por enquanto, acreditou nas palavras do novo filiado.
Chalita terá de vencer o completo desconhecimento na periferia da capital, além de petistas e tucanos, tradicionalmente fortes na capital. Pela primeira vez em muitos anos, no entanto, a disputa pela prefeitura não deve estar polarizada entre PT e PSDB. As duas legendas, inclusive, estão batendo cabeça em disputas internas.
O PT tem quatro pré-candidatos e um gigante avalizando um dos nomes. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva está empenhado em emplacar Haddad como o nome do partido. Nas caravanas promovidas pelo PT paulistano, Marta tem sido mais ovacionada que o ministro da Educação, mas o peso de Lula no partido pode desequilibrar esse prestígio. ;Se Marta desistir, ainda resta os deputados Jilmar Tatto e Carlos Zarattini, ambos com bem mais trânsito na militância petista do que Haddad;, completou uma liderança petista.
A situação do PSDB é ainda mais delicada. Principal referência do partido no estado, com duas eleições presidenciais nas costas, uma vitória para a prefeitura de São Paulo em 2004 e o governo do estado em 2006, José Serra mostra-se pouco disposto a disputar o governo municipal novamente. Internamente, também não goza de tanto prestígio e, nas pesquisas qualitativas feitas perante o eleitorado, o mandato relâmpago de pouco mais de um ano, abandonado para a disputa ao governo estadual, desgastou a imagem com a população.
Peso eleitoral
O PSDB tem um nome pronto para ser trabalhado: o secretário estadual de Meio Ambiente, Bruno Covas (leia abaixo), neto do ex-governador paulista Mário Covas. Tem o sobrenome como seu aliado, mas terá que passar por um intenso laboratório ao lado do governador Geraldo Alckmin. A estratégia demanda tempo e há quem duvide que isso seja viável. Quem se coloca como pré-candidato é o secretário de Energia do estado, José Aníbal. Ele tem mais densidade política que Bruno, mas alguns analistas acham que também tem menos potencial de angariar votos.
Há ainda uma incógnita quanto ao PSD, o partido que, oficialmente, não saiu do papel, mas deverá embolar ainda mais o cenário local. O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, tem quase R$ 10 milhões em caixa e poucos duvidam que ele abrirá as chaves do cofre no último ano de governo. Kassab ainda tenta construir um candidato viável para sucedê-lo. Um nome com imagem de retidão é o do secretário municipal de Meio Ambiente, Eduardo Jorge (PV). Mas, a exemplo de Covas, também é pouco conhecido e precisaria ser bem trabalhado. ;A saída mais segura será indicar o vice-prefeito, Guilherme Afif, que tem recall de disputas anteriores e votos certos no PIB paulistano;, disse um experiente político paulistano.