São Paulo ; Mesmo com todas as pesquisas apontando a senadora Marta Suplicy (PT) como a preferida neste momento para a prefeitura de São Paulo, nem passa pela cabeça do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a ideia de desistir de tentar emplacar o ministro da Educação, Fernando Haddad, na cadeira hoje ocupada por Gilberto Kassab (PSD). No levantamento do Datafolha feito na semana passada, a senadora aparece com 14 pontos de vantagens a frente de Haddad e José Serra (PSDB).
Os números não animaram Lula. Pelo contrário, ele ainda tentará um acordo com Marta para que ela desista da candidatura. Na análise do ex-presidente, o PT paulista é um barril de pólvora e uma prévia poderia causar uma explosão de grandes proporções ; que poderia arranhar a imagem da senadora. A ideia é fazer com que Marta saia da disputa à francesa, para não parecer que foi preterida. Lula decidiu ainda intensificar os trabalhos para emplacar Haddad.
Paternidade
O que preocupa agora não é se Marta vai abrir mão da candidatura, o que é visto apenas como uma questão de tempo. O problema é o risco de tê-la como adversária dentro do partido. Ela passou a atacar Haddad pelos corredores de Brasília. Chegou até a criar uma saia justa ao dizer publicamente que é mãe do Centros Educacionais Unificados (Ceus), projeto popular em São Paulo. Haddad já tinha dito que foi o idealizador dos Ceus e determinou à sua equipe o levantamento de informações sobre o tema para sua pré-campanha.
O maior entrave de Marta é o isolamento. Enquanto prefeita, ela tinha um núcleo sólido de apoio dentro do PT paulista. Desde então, acumula derrotas políticas e antigos aliados foram para lados opostos. É o caso dos deputados petistas Carlos Zarattini e Jilmar Tatto, que se opõem a uma eventual prévia. Outro ex-aliado, Luiz Marinho (PT), prefeito de São Bernardo do Campo, é hoje um dos maiores entusiastas da pré-campanha de Haddad. ;Não tem como ir contra o nosso presidente;, diz Marinho. O líder do governo na Câmara dos Deputados, Cândido Vacarezza (PT-SP), vai na mesma linha: ;Não há como desprezar a força política que Marta tem em São Paulo, mas ninguém dentro do PT quer contrariar Lula;.
Rusgas antigas
Mesmo bem colocada nas pesquisas, Marta está sem apoio político sólido para alçar grandes voos. Há rusgas com antigos aliados pela sua candidatura ao Senado em 2010, e não ao governo. Vem também desse período uma briga com o atual ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, na época senador e candidato ao Palácio dos Bandeirantes. Era visível o mal-estar entre os dois nos palanques. Os desentendimentos foram tantos que Marta rompeu com o publicitário de Mercadante, Augusto Fonseca, e contratou Duda Mendonça. Hoje, os dois apenas se cumprimentam.
Deixada à deriva por Lula, Marta buscou o apoio da presidente Dilma Rousseff. Disse à presidente que precisava de apoio feminino para concorrer. Ouviu que São Paulo é assunto de Lula e que o governo precisa de apoio no Senado. Mais tarde, ele reforçou a ducha de água fria com o mantra do PT para 2012: ;Cara nova;. Lula não pediu para Marta desistir da empreitada porque ela já chegou ao encontro anunciando a pré-candidatura. Ainda, porque o poder eleitoral da petista faz com que, para ser eleito, Haddad precise tê-la ao seu lado no palanque. Por isso, a solução seria uma saída discreta de cena.