O 4; Congresso do PT aberto ontem no Centro de Convenções Brasil 21 serviu para esfriar as especulações de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva será candidato às eleições presidenciais em 2014. E foi planejado na medida para que a militância entenda que a presidente é Dilma Rousseff. Ao mencionar, olhando para a sucessora, que o Brasil tem que ser o indutor do desenvolvimento na América Latina, Lula foi direto ao ponto, apesar do deslize na matemática: ;Oito meses é muito pouco para quem irá governar por oito anos esse país. Só foram 10% do tempo que você vai ter (10% de oito anos equivalem a nove meses e 18 dias);.
Em um discurso de 11 minutos ; menos de um terço do tempo destinado para Dilma (37 minutos) ; para uma plateia formada por petistas e ainda integrantes do PSB, PCdoB e PDT, Lula disse que aquele era o grupo com que Dilma poderia contar. ;Na dúvida, tenha uma certeza: aqui nesse palanque, com esses companheiros, não tem maremoto, não tem vendaval, não tem furacão, vulcão que você não possa vencer. Conte conosco;, disse Lula.
Mais solta do que no aniversário de 31 anos do PT, em fevereiro, quando não discursou e a estrela da festa tinha sido Lula, Dilma tratou de dizer que tem muito orgulho do que foi feito na gestão do antecessor e tratou de afastar o fantasma de uma divisão entre eles. E rebateu as acusações de ser uma tecnocrata, sem paciência para a prática política cotidiana. ;Às vezes especulam sobre minha suposta inapetência política. Esquecem que tenho muito orgulho de ter, quando era muito difícil fazer política no Brasil, porque dava cadeia ou morte, eu tenho muito orgulho de ter feito política no Brasil;, disse Dilma, arrancando aplausos de pé do auditório, no momento mais festejado de sua fala.
Conselho
Tanto Lula quanto Dilma fizeram questão de demonstrar apoio ao ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu (leia mais na página 3). Dilma, a última a falar no congresso petista, foi clara ao dizer que o maior conselho que recebeu de Lula tinha sido o de ;decidir com o coração e escutar a militância;. ;Muitas vezes chego no interior do Brasil e vejo um companheiro, que não é das classes mais altas, com a bandeira do PT na mão. Isso me enche de orgulho;, declarou, numa demonstração de apreço ao que Lula chamou de militância anônima.
Dilma também refutou a tese de herança maldita. ;Dizer que eu me elegi presidente, baseada na trajetória desse partido e no governo do presidente Lula e que tenho uma herança que não é bendita, é uma tentativa solerte, envergonhada e insinuada que tenta toldar uma das maiores conquistas que tivemos nos últimos anos: mudamos a forma do Brasil se desenvolver;, disse a presidente. ;A nossa herança é a daqueles que transformaram o Brasil. Outros tentaram, mas, de uma forma ou de outra, foram interrompidos. Ou se mataram ou foram apeados do poder;, completou, numa forma de resgate do governo Lula, citando, indiretamente, um dos ícones cultuados por Lula: Getúlio Vargas.
Para Dilma, não há como separar as duas gestões. ;Estou firmada sobre uma pedra muito sólida que é a experiência de oito anos de um governo que tive a honra de participar. Não é herança porque ajudei a construir essa pedra. Os erros e acertos dela são meus erros e meus acertos. Integrar esse projeto que tirou 40 milhões da pobreza e os elevou à classe média;, disse Dilma. ;Como posso estar em conflito comigo mesma se ocupei um cargo de destaque no governo Lula?;, questionou a presidente.