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Politica

Cada vez mais sem apoio dentro do PMDB, ministro Novais vai hoje ao Senado

O ministro do Turismo, Pedro Novais, depõe hoje na Comissão de Turismo do Senado sob a ameaca de ser o próximo titular do Executivo a ter de limpar as gavetas na Esplanada. No fio da navalha desde a deflagração da Operação Voucher, que levou à prisão de 36 pessoas pela Polícia Federal, Novais enfrenta agora a pressão interna de parte da bancada de deputados, insatisfeitos com a liderança de Henrique Eduardo Alves (RN), principal fiador da indicação de Novais. Para esse grupo, a situação do ministro na pasta ficou insustentável. ;Ele não tem mais condições para permanecer no cargo, está completamente enfraquecido;, declarou um deputado dissidente.

Politicamente, a situação de Novais está praticamente definida. Como a indicação dele foi endossada por Henrique Eduardo Alves, em vaga que pertencia à Câmara, todos os caminhos apontam para um ministro sem apoio no próprio partido. Ele vai depor hoje no Senado, mas ninguém sabe ao certo por quanto tempo ele poderá ostentar o cargo de ministro. ;Até a semana passada, ele estava disposto a permanecer no cargo. Mas a pressão no fim de semana foi muito grande e eu não sei como está o estado de espírito dele hoje (ontem);, disse um ministro peemedebista ao Correio.

Esse mesmo ministro garantiu que Novais é um homem honesto e que as recentes denúncias envolvendo seu nome estariam atrapalhando seu trabalho, o que poderia fazer com que ele tomasse a mesma decisão de Wagner Rossi, que pediu exoneração do Ministério da Agricultura alegando ;pressões familiares;. Os dissidentes da bancada reclamam que, visado pela operação da Polícia Federal, o ministro do Turismo perdeu a capacidade de ;operar politicamente; para o partido. Ou seja: não consegue mais garantir recursos de emendas nem firmar convênios que interessem à legenda.

Antipatia
Presidente em exercício do partido, o senador Valdir Raupp (RR), acredita que, até o momento, apenas uma minoria defende a exoneração de Novais. ;Ele é um deputado indicado pela maioria da bancada. Se a bancada indicou, enquanto a maioria não retirar esse apoio, não é o caso de discutir isso (a demissão do ministro);, afirmou Raupp. Um assessor pemedebista lembra, no entanto, que esses movimentos se tornam incontroláveis de uma hora para outra. ;O Eunício Oliveira (hoje senador pelo PMDB cearense) já perdeu o cargo de líder e, em outro momento, teve que deixar o Ministério das Comunicações por ter ficado sem o apoio da bancada de deputados do partido;, recordou um interlocutor do partido.

Mas o movimento dissidente preocupa a cúpula partidária, que começou a se movimentar ontem para tentar conter os rebelados. Um grupo de parlamentares, dentre eles Danilo Fortes (PMDB-CE), reuniu-se na noite de ontem com o vice-presidente Michel Temer (PMDB-SP). O convite para o encontro partiu de Temer, disposto a ouvir quais os problemas identificados pelo grupo. Mais cedo, Danilo Fortes conversou por telefone com o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL). ;Temos que nos acertar. Se junto já está difícil, imagina se estivermos separados;, ponderou o senador alagoano.

Danilo Fortes afirmou que os questionamentos feitos a Henrique Eduardo Alves não são fruto de uma antipatia pessoal, mas sim divergências políticas pela maneira como o líder vem conduzindo a bancada. O pemeedebista cearense reclama do tratamento privilegiado concedido ao deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), escolhido recentemente como o relator das mudanças no novo Código de Processo Civil (leia matéria na página 3). ;Além disso, temos assuntos que são bandeira do partido que estão sendo colocados de lado, como a Emenda 29 e a CPI da Mineração;, apontou ele. Essa última investigação pode respingar no Ministério de Minas e Energia, comandado por Edison Lobão, afilhado do presidente do Senado, José Sarney.

Temer tenta evitar que a relação do partido com o Planalto volte a se deteriorar. Hoje, ele oferecerá um jantar de todo o partido ; deputados, senadores e ministros peemedebistas ; para a presidente Dilma Rousseff e ministros palacianos no Palácio do Jaburu, residência oficial da vice-presidente. Um cenário bem diferente da segunda-feira passada, quando Dilma convidou o comando do partido para uma conversa no Planalto. Lideranças da legenda confidenciaram o receio de cortes na Esplanada ; Wagner Rossi ainda era ministro da Agricultura ; que pudessem atingir até mesmo o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR). Contrariando as expectativas, a presidente reforçou a necessidade da parceria com o PMDB, seguindo os conselhos dados pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Mesmo assim, Dilma promoveu ontem as alterações que pretendia na diretoria de Furnas, retirando os últimos diretores ligados ao PMDB de Eduardo Cunha (RJ) e Romero Jucá (RR). Saem Mario Marcio Rogard, Marcio Porto e Luiz Hamann. Os diretores substitutos têm um perfil técnico, como cobra a presidente Dilma nos cargos de direção no setor elétrico. Mas o diretor Luiz Fernando Paroli, da Diretoria de Gestão Corporativa, ligado ao petista Odair Cunha (MG), permanece no cargo.

Pastor consegue pagar a fiança
O pastor Wladimir Furtado, um dos suspeitos detidos na Operação Voucher, conseguiu pagar ontem a fiança de R$ 109 mil estipulada pela Justiça para que ele permanecesse solto. No último dia 13, para conseguir ser solto, a mulher dele depositou um cheque-caução para cobrir o valor. O casal, segundo o advogado do pastor, passou os nove dias seguintes tentando arrecadar o dinheiro. O pastor é presidente da Cooperativa de Negócios e Consultoria Turística (Conectur), empresa suspeita de servir de fachada para desvio de recursos de convênios do Ministério do Turismo. Furtado nega envolvimento em qualquer tipo de fraude.

O que pesa contra

Confira os principais problemas enfrentados pelo ministro do Turismo, Pedro Novais:

*Polícia Federal prendeu
36 pessoas suspeitas de fraudes no Ministério do Turismo na Operação Voucher;

*Relatórios do Tribunal de Contas da União informaram ao ministro as irregularidades três semanas antes da operação;

*Novais, como deputado, destinou R$ 1 milhão de emendas ao Turismo para construir uma ponte em uma cidade no Maranhão ; Barra do Corda ; sem nenhuma tradição turística;

*Antes mesmo de assumir o Turismo, Pedro Novais foi acusado de pagar despesas de um motel em São Luís com dinheiro de verba parlamentar.

Colaborou Débora Álvares