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Escutas da PF revelam que escritório orientou depoimento ao TCU

Grampos telefônicos realizados pela Polícia Federal, com autorização da Justiça, revelam que funcionários da ONG Ibrasi intermediaram encontros entre os advogados do escritório Cedraz, Tourinho e Dantas, que tem como sócio Tiago Cedraz, filho do ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Aroldo Cedraz, com servidores do Ministério do Turismo. O objetivo era afinar as defesas do Instituto e da pasta junto à corte. Cabe à Advocacia-Geral da União (AGU) a tarefa de defender o governo nos tribunais.

Os empresários do Ibrasi contratam o escritório de Cedraz com o objetivo de conseguir alguma influência no julgamento. A investigação da Polícia Federal mostrou que o advogado Romildo Peixoto, que atuava no caso representanto o escritório, conseguiu acessar dados privilegiados. Em uma conversa telefônica com Luiz Gustavo Machado, sócio do Ibrasi e suposto chefe da quadrilha, segundo a PF, feita em 27 de maio deste ano, Romildo afirmou estar com a situação controlada no TCU. ;A boa notícia é que nós estamos no controle da situação. Já temos uma noção, uma noção não, um domínio assim até relativamente mais profundo dos fatos. Temos a instrução do Amapá 1 na nossa mão;, disse Romildo, na gravação a que o Correio teve acesso, referindo-se à auditoria em cima do convênio no valor de R$ 4 milhões, alvo da fraude.

Um dia antes de o advogado afirmar a Machado que tem um domínio profundo dos fatos, Katiana Necchi, filha de Maria Helena Necchi, sócia no Ibrasi, conversa por telefone com Kérima Silva Carvalho a orientando a conversar com Romido. ;Eu já avisei que vocês queriam coordenar as respostas, que você era do Ministério, que você era gestora do projeto e a secretária falou que era o Romildo que ia (sic) te atender;, disse Katina, de acordo com ligação realizada às 13h08 de 26 de maio deste ano.

Cerca de duas horas e meia depois, Kérima retorna a ligação à Katiana, relatando a conversa com o advogado contratado pelo Ibrasi. ;Você conseguiu falar com Dr. Romildo? Conversa com ele foi boa, né?;, questionou a representante do instituto. ;Foi, foi boa, assim, acho que eu, nós temos o mesmo entendimento de algumas coisas. Eles não acabaram de olhar ainda todo o material que a gente deixou lá, daí a gente vai ver que que eles vão, que eles vão fazer;, respondeu a funcionária do Ministério do Turismo.

Convênio suspenso
Apesar da contratação, o TCU decidiu na quarta-feira a suspensão do convênio n; 746753/2010 sobre turismo no Amapá que não é a peça central das investigações sobre a fraude, mas a PF já identificou que o esquema original estava sendo levado para os outros convênios entre o Ibrasi e o Turismo.

Em nota, o escritório Cedraz e Tourinho Dantas Advogados repudia o ;juízo de valor colocado na decisão da autoridade judiciária e no relatório subscrito pela autoridade policial;. Segundo os advogados, faltam provas documentais. Filho de ministro do TCU, Tiago Cedraz afirma que não possui procuração nos processos do tribunal e que nunca se encontrou com os investigados pela Polícia Federal.

Romildo Peixoto, advogado responsável pelo caso, disse ontem que conversou com Kérima, a pedido de seu cliente, para alinhar a defesa na corte de contas com o Ministério do Turismo. Prática, segundo ele, corriqueira no exercício da advocacia. Romildo afirmou ainda que desconhecia a atuação de Kérima na pasta. Com relação ao despacho do juiz, o advogado disse que não houve tráfico de influência e que usou frases como ;estamos no controle da situação; para tranquilizar o seu cliente. O escritório afirma ainda que os autos da instrução da auditoria estavam disponíveis para todas as partes do processo em 23 de maio e não em 1; de junho, como cita o despacho do magistrado.


PRESTAÇÃO DE CONTAS MAIS RÍGIDA
O Ministério do Turismo publicou hoje uma portaria que endurece as regras para prestação de contas dos convênios firmados pela pasta. As modificações serão aplicadas a todos os órgãos e entidades que firmarem contrato com o ministério. O prazo para prestação de contas caiu pela metade: de 60 para 30 dias. Em caso de descumprimento, a empresa terá dez dias para apresentar as contas ou restituir o dinheiro. As empresas só poderão assinar novo contrato depois de as contas serem aprovadas.