Jornal Correio Braziliense

Politica

Mais seis funcionários estão por um fio após denúncias nos Transportes

Setor coleciona 15 baixas desde o início das denúncias de propina e desvio de recursos públicos

A faxina no Ministério dos Transportes vai superar a marca alcançada ontem, de 15 servidores demitidos nos últimos 19 dias, tempo de duração da crise que alterou a configuração da pasta. Estão por um fio o diretor de Infraestrutura Ferroviária do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Geraldo Lourenço de Souza Neto, e a assessora do Ministério dos Transportes Ana Fátima Feliciano Lopes. Também está acertada a demissão do Diretor de Infraestrutura Rodoviária do Dnit, o petista Hideraldo Luiz Caron. Funcionários que trabalham diretamente com ele preparam a saída das salas ocupadas no prédio da autarquia. Movimentação semelhante é feita por Francielle Leão, chefe de gabinete de Luiz Antonio Pagot, diretor-geral afastado do Dnit. Francielle, diante da impossibilidade da volta de Pagot após o fim das férias, já organiza a mudança.

O ouvidor da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Nilo Moriconi Garcia, é outro em situação complicada. No cargo desde 2005, Nilo é de Mogi das Cruzes e amigo de infância do deputado Valdemar Costa Neto (PR-SP). O ouvidor passou o dia em reuniões na ANTT. A indicação de Nilo, Eduardo e Ana Fátima para o Ministério dos Transportes e a ANTT, feita pelo deputado do PR, foi divulgada ontem pelo Correio. Homem forte do partido, Valdemar é apontado como um dos artífices do suposto esquema de propina e de tráfico de influência envolvendo parlamentares do PR ; sigla que domina a pasta.

Depois de Pagot, Hideraldo e José Henrique Sadok de Sá, o quarto diretor do Dnit a entrar na linha de tiro é Geraldo Lourenço. Ele chegou a ser chamado ao Palácio do Planalto na segunda-feira. O diretor não quis falar com o Correio mas, por meio da assessoria de imprensa do Dnit, confirmou que esteve no palácio com o ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos. Geraldo diz que ficou na antessala do gabinete da presidente Dilma Rousseff. ;Eu não entrei. Só iria entrar se a presidente me chamasse para explicar as obras dos contornos ferroviários;, disse, por meio da assessoria.

Geraldo Lourenço Souza Neto, indicado pelo senador Magno Malta (PR-ES), gerencia obras de contornos ferroviários sob forte influência ; pelo menos até o estouro do escândalo ; de Valdemar Costa Neto e de empreiteiras que atuam no Dnit. Já há uma movimentação no gabinete de Geraldo Lourenço de retirada de pertences pessoais. Segundo a assessoria de imprensa, o que ocorre é uma ;troca do piso; na sala da diretoria.

Ana Fátima, assim como o marido dela, Eduardo Lopes, exonerado ontem, foi colocada no ministério por Valdemar em 2008 e imediatamente nomeada pelo então ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, para o cargo de coordenadora-geral de Análise de Editais. Com a exoneração do marido, Ana Fátima não apareceu no ministério, segundo as secretárias do local onde atua.

Ontem, a faxina no Ministério dos Transportes, além de Eduardo Lopes, atingiu o gerente de licitações e contratos da Valec, Cleilson Gadelha Queiroz.

Cleilson trabalhava em parceria com o ex-presidente da Valec José Francisco das Neves, o Juquinha. O ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, afirmou, em Pernambuco, que tem liberdade para fazer as mudanças necessárias na pasta e classificou as demissões como ;ajustes;. ;Eu assumi o Ministério dos Transportes e entendo que são necessários ajustes.

Estou mantendo a presidente informada de tudo e continuaremos as ações necessárias para o funcionamento da máquina;, disse.

PR ;demonizado;
No Planalto, a avaliação é que as exonerações estão ocorrendo de maneira ágil, apesar de o PR e a oposição dizerem que o ritmo é de conta-gotas para gerar fatos políticos e ;demonizar; o partido. O governo alega que preferiu não demitir todos sob risco de causar um choque e parar a máquina pública. Além disso, o Planalto procura com lupa substitutos não envolvidos em irregularidades.

Houve ainda outra exoneração na Valec, mas sem relação com as denúncias. O engenheiro Pedro Ivan Rogedo trabalhou 1 mês e quatro dias na estatal em cima do projeto básico da Ferrovia de Integração Centro-Oeste. Professor da UnB, Rogedo não tem relações com partidos. Pediu para ser demitido em 11 de julho para fazer um tratamento de saúde. As informações são confirmadas pela Gerência de Recursos Humanos da Valec.