Em meio às recentes invasões a sites governamentais, o grupo Transparência Hacker afirma não ter relação com os responsáveis pelos ataques e aproveita o momento para discutir a própria atuação. Segundo seus participantes, a organização, objeto de reportagem do Correio de 21 de maio, tenta se desvencilhar das ações criminosas. ;Trabalhamos com dados que são abertos. Nossa luta é divulgar informações governamentais que já são públicas, tornando-as mais acessíveis;, explica o articulador de redes Diego Casaes, 23 anos. Ele desaprova a publicação de dados como telefones de ministros ou o CPF da presidente Dilma Rousseff, por exemplo. ;Essas informações são pessoais, não públicas. Entendo que devem permanecer sigilosas, porque dizem respeito à pessoa;, afirma.
Segundo o engenheiro de softwares Marcelo Jorge Vieira, 29 anos, que também participa das discussões do grupo, os objetivos dos ;hackers do bem; são diferentes. Eles têm como hobby descobrir falhas em sites, de instituições públicas ou não, e alertar os responsáveis. Na página da Agência Nacional do Petróleo (ANP), por exemplo, Vieira acessou a listagem de preços de gasolina para criar um abaixo-assinado por valores mais baixos dentro do portal. ;Eu poderia ter coletado senhas ou publicado uma notícia falsa, mas essa não é nossa proposta. Nossa intenção é mostrar que há problemas, para que os órgãos possam corrigi-los antes que alguém se aproveite dessas deficiências;, diz, acrescentando que há pouco cuidado com os sistemas do governo.
[SAIBAMAIS]No mês passado, Vieria identificou brechas nos sites de diversos ministérios, como os da Cultura, Fazenda, Meio Ambiente, Minas e Energia e Ciência e Tecnologia, além do Tribunal de Contas da União (TCU) e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Essas falhas poderiam facilitar o roubo de senhas e de dados e os órgãos foram alertados. No entanto, afirma o engenheiro, apenas alguns corrigiram os problemas. ;A Anvisa me mandou um e-mail na semana passada falando que só agora eles tinham protocolado o pedido na ouvidoria para começar a corrigir o erro. É tudo muito lento.;
As falhas identificadas, segundo Vieira, são primárias e não têm relação com os ataques desta semana. ;O alerta que eu fiz diz respeito à facilidade para o roubo de dados, não para tirar os sites do ar;, explica. O especialista em informática ainda critica o modelo de gestão oficial. ;A máquina do governo é muito grande e eles não têm uma gerência para proteger os sites. Cada órgão cuida de sua estrutura de TI (Tecnologia da Informação) e algumas têm o Serpro (Serviço Federal de Processamento de Dados), mas não há ninguém para acompanhar de forma centralizada. Um ministério sofre um ataque e os outros não ficam sabendo;, comenta.
Participação
Criado em outubro de 2009, em São Paulo, o Transparência Hacker tem o objetivo de fiscalizar o governo por meio da internet e incentivar maior participação da população nos processos decisórios. O movimento, hoje, contabiliza cerca de 500 participantes, que mantêm uma lista de discussão na web e organizam encontros em diversos pontos do país ; os chamados hackdays ;, quando desenvolvem aplicativos baseados em informações públicas.