O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai intervir diretamente no racha petista na Câmara dos Deputados para tentar reequilibrar as forças do partido com as do PMDB. A divisão provocou o enfraquecimento da legenda com os aliados pelo protagonismo no governo e custou dois ministros ao Palácio do Planalto nos primeiros seis meses da gestão de Dilma Rousseff. Lula terá encontro logo no início da semana com os principais dirigentes do PT na Casa para transmitir um recado: caso os problemas internos continuem, a própria bancada petista perderá espaço no governo. Mais: os setores relutantes em escalar peemedebistas como aliados preferenciais devem recolher as armas para que o governo consiga atravessar a tormenta. Sem eles, a governabilidade ficaria comprometida.
PT e PMDB formam um histórico de aliança conturbada, desde o primeiro mandato de Lula, em 2003. Na época, o então presidente fazia parte da ala que preferia o PMDB fora. O resultado foi uma Esplanada dos Ministérios com 22 petistas e nenhum peemedebista. No ano seguinte, convencido pelo então ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, e pelas circunstâncias políticas da época, convidou a sigla para integrar a Esplanada. Desde então, o enlace nunca conseguiu total estabilidade. A tal ponto que, atualmente, divide ao meio os petistas na Câmara. Metade acredita que o PMDB deve ser aliado preferencial do partido no governo. O outro lado entende que é melhor privilegiar partidos do chamado bloquinho, como PCdoB e PSB, aliados tidos como mais ;confiáveis;.
Rompedor
Com a disputa de cargos no novo governo, o que era uma diferença política virou uma disputa fratricida por espaços de poder ; e consequentemente de influência. Evidenciado na disputa pela Presidência da Câmara, o racha petista ganhou contornos externos e acabou por enfraquecer o partido diante do PMDB. ;O PT não se entende internamente. Ele parece disposto a arrancar do governo Dilma tudo o que não arrancou do Lula;, afirma o professor do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), Carlos Mello. De acordo com o cientista político, a própria troca de José Eduardo Dutra por Rui Falcão no comando da legenda evidencia a crise de relacionamento com o Planalto. ;O partido entende que o presidente da legenda precisa ser um centroavante rompedor em direção ao governo. Só que Dutra era um cara do governo para controlar o PT. Já o Rui Falcão faz esse enfrentamento;, analisa.
A pressão petista sobre o Planalto chegou a tal ponto que Dilma pediu a intervenção de Lula no conflito. O encontro com as lideranças petistas, a maioria de São Paulo, deve acontecer até a terça-feira. Na sexta-feira, poucas horas antes da indicação de Ideli para a Secretaria de Relações Institucionais, Lula já mandou o primeiro recado aos deputados petistas. ;O PT não vai impor ministério, da mesma forma que nunca impôs para mim. Da mesma forma que eu não aceitei imposição, tenho certeza que ela não aceita;, afirmou o ex-presidente. Para o PMDB, que assiste à disputa de camarote, a situação tornou-se confortável, até porque afastou da legenda a imagem de o partido fisiologista do governo. ;Nos dividirmos (PT e PMDB) agora é um ato de extrema burrice. Ganhamos juntos uma eleição. Não temos outras cartas na manga;, diz o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN).