A ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, tomou posse ontem à tarde no Palácio do Planalto em uma cerimônia com clima ameno, planejada para encerrar a crise política que assola o governo há três semanas. Com participação maciça da base aliada, discursos em tom de agradecimento e sem qualquer referência às suspeitas que levaram à queda de Antonio Palocci, a solenidade teve momentos de emoção da presidente Dilma Rousseff, como, por exemplo, ao lembrar da participação do ex-ministro na campanha de 2010.
Acompanhada pela família ; incluindo o marido, o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, e os filhos, João Augusto e Gabriela ;, Gleisi recebeu as boas-vindas de Dilma, que ressaltou o perfil técnico da paranaense. A presidente chamou Gleisi de ;amiga; e afirmou que a senadora petista se notabilizou no Congresso pela competência de administradora e gestora. ;Tenho certeza de que você será bem-sucedida nessa importante função de governo. Sei disso porque a conheço muito bem;, disse.
A ministra agradeceu a confiança da presidente e, no discurso, destacou que quer seguir os passos de Dilma no Executivo. ;Pretendo trabalhar com a mesma lealdade e responsabilidade da presidente;, comentou. Gleisi aproveitou, ainda, para colocar panos quentes na conturbada relação entre o Planalto e o Congresso. ;Tenho consciência que minha escolha não se deve apenas à minha trajetória política. Ao escolher uma senadora, Dilma manifesta apreço ao Congresso, ao Poder Legislativo;, destacou.
Primeiro a falar durante o evento, Palocci explicou que a decisão de deixar a Casa Civil foi tomada para preservar o diálogo político do governo e garantiu que saía do cargo sem ressentimento ou mágoa. Antes de deixar o Palácio do Planalto, falou com a imprensa. De acordo com ele, a confiança de Dilma no seu trabalho permanece. ;É assim que a política funciona, é assim que a imprensa funciona e é por isso que a gente luta pela liberdade de imprensa. Então, eu saio com respeito, com a cabeça erguida e com a certeza de que a presidente Dilma vai fazer muito pelo país.;
Ele foi elogiado pela sucessora e por Dilma, que ficou com a voz embargada ao falar sobre o ex-ministro. ;Eu estaria mentindo se dissesse que não estou triste. Tenho muitos motivos para lamentar a saída do ministro Antonio Palocci. Motivos de ordem política, pelo papel que, como todos vocês sabem, ele desempenhou na minha campanha; motivos de ordem administrativa, pelo papel que ele tinha e teria no meu governo; motivos de ordem pessoal, também, pela relação de amizade que construímos ao longo deste tempo em que trabalhamos juntos;, ponderou.
Afagos
Gleisi Hoffmann aproveitou a despedida do Senado para reforçar a defesa do governo Dilma, afagar o PMDB, rechaçar a imagem de ;trator; no exercício do mandato e pavimentar um diálogo com a oposição. Ela fez um discurso breve em plenário e, logo após a fala, recebeu afagos públicos da maioria dos senadores presentes. Parlamentares da oposição tomaram a palavra para dizer que Gleisi é ;competente; e ;preparada; para o cargo. Mas lembraram o momento difícil do governo Dilma. ;A senhora assume a Casa Civil num momento de crise;, disse o senador José Agripino (DEM-RN).
[SAIBAMAIS]O discurso de Gleisi começou com a presença de 50 senadores. Ao final, 65 dos 81 parlamentares estavam em plenário. Ela começou citando o poeta Manuel de Barros, que escolheu a palavra ;criança; como a mais bonita da língua portuguesa, e terminou com uma poesia de Helena Kolody, do Paraná. A nova ministra da Casa Civil disse ter gratidão ao presidente do Senado, José Sarney, e ao presidente da Comissão de Relações Exteriores, senador Fernando Collor (PTB-AL).
O primeiro porque a ;acolheu; no Senado. O segundo, pelo ;aprendizado; na comissão onde foi titular. A citação nominal ao ex-presidente Collor, que sofreu um processo de impeachment em 1992, não estava prevista no discurso redigido por Gleisi. Entrou de improviso. Collor foi o primeiro a fazer um aparte para elogiar a ministra.
;Cheguei a esta Casa em fevereiro, há menos de seis meses, e hoje o primeiro dia neste plenário me parece uma data remota;, disse ela. Para Gleisi, a consideração de oposicionistas de que é um ;trator; não é a ;melhor metáfora para quem exerce a política e sempre se dispôs a debater;. ;Gostaria muito de manter a convivência respeitosa que iniciamos nesta Casa.; Gleisi disse ainda que assumiu o mandato com o compromisso de defender o governo Dilma. ;Sempre fui muito incisiva aqui na defesa de seu governo. Quis Deus, através da presidenta, que eu ficasse ainda mais próxima para este auxílio.;
Veja vídeo da posse de Gleisi Hoffmann