Jornal Correio Braziliense

Politica

Agentes da repressão aproveitavam Dia do Trabalho para monitorar sindicatos

Tradicionais nas celebrações do Dia do Trabalhador, as festas promovidas pelas centrais sindicais em São Paulo ; como a que ocorre hoje, na Avenida Marquês de São Vicente ;, serviram para municiar o regime militar com informações sobre os sindicatos e até mesmo autoridades. Isso ocorreu, por exemplo, durante as comemorações do 1; de maio de 1967, quando trabalhadores festejaram a data no Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo ao lado do então ministro do Trabalho, Jarbas Passarinho, e do governador do estado à época, Roberto Costa de Abreu Sodré. O encontro foi monitorado por agentes do Departamento de Ordem Política e Social (Dops).

Na ocasião, os trabalhadores fizeram reivindicações ao então ministro do Trabalho e agradeceram por benefícios recebidos, tudo documentado pelo Dops paulista. O informe, que só foi difundido a outras agências de informação da época depois de um mês, relatava que até mesmo as esposas das autoridades presentes eram observadas.

;Foi dada a palavra ao ministro do Trabalho, Jarbas Passarinho, que proferiu um breve discurso;, registraram os arapongas do Dops. Além disso, ;as reivindicações apresentadas seriam objeto de estudo, havendo a possibilidade de algumas serem atendidas, enquanto outras deveriam encontrar solução conforme os maiores interesses do operariado e governo;. O discurso de Sodré também ficou registrado no informe do Dops, que destacou que o governador paulista falou sobre a ;necessidade de ser restabelecida a verdade e de acabar com a mentira;.

Depois que as autoridades deixaram o local ; seguindo para outra festa de trabalhadores ;, foi a vez de os sindicalistas serem os alvos da espionagem. Segundo o informe que se encontra no acervo do Centro de Informações da Aeronáutica (Cisa), no Arquivo Nacional, em Brasília, os discursos passaram a ser contra o governo. ;Falou, também, um representante do sindicato dos químicos de Osasco (estamos investigando para identificar), criticando violentamente aqueles que aplaudiram o ministro do Trabalho, que falava em liberdade, enquanto ;beleguins; do Dops prendem trabalhadores que lutam por seus direitos;, relatavam os agentes do serviço de informação, que também atuavam na repressão.

Com o passar do tempo, a vigilância em torno dos sindicatos ficou cada vez mais severa. O movimento sindical representava fonte de preocupação para os militares desde o golpe de março de 1964 até os instantes finais do regime de exceção, em 1985. No Primeiro de Maio do ano anterior à redemocratização, por exemplo, os arapongas estavam no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo (SP), durante a eleição de Jair Meneghelli à Presidência da entidade. ;Para compor a chapa, Meneghelli indicou, também, mais três elementos: Luiz Inácio Lula da Silva, Vicente de Paulo da Silva (o hoje deputado Vicentinho) e José Cândido Pereira. Esses quatro elementos cassados de acordo com a lei trabalhista são inelegíveis, mas essas indicações foram feitas com o propósito claro de desmoralizar as leis trabalhistas do país;, relataram os agentes do Exército.

Falou, também, um representante do sindicato dos químicos de Osasco (estamos investigando para identificar), criticando violentamente aqueles que aplaudiram o ministro do Trabalho;

Relatório do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) sobre as comemorações do 1; de maio de 1967, no Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo